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GUERRA SEM LIMITES
Para autor de "Bobos in Paradise", atentados deixaram classe alta mais preocupada com a vida pública
Ricos dos EUA mudaram após 11 de setembro
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Depois de 11 de setembro, os bobos mudaram. Evoluíram. Pelo
menos os bobos norte-americanos. É o que garante o descobridor deles, o jornalista David
Brooks, autor do best-seller "Bobos in Paradise - The New Upper
Class and How They Got There"
(Bobos no Paraíso - A Nova Classe Alta e Como Eles Chegaram Lá,
Simon & Schuster, 2000).
Seu livro, ironia e sarcasmo da
primeira à ultima página, criou o
neologismo "bobo", sigla de
"bourgeoise bohemian" (burguês
boêmio, em inglês), que define à
perfeição a nova classe endinheirada norte-americana, que junta
os valores utópicos dos hippies
dos anos 60 ao materialismo voraz dos yuppies dos anos 80.
A Folha foi atrás de Brooks, que
tem uma coluna na revista dominical do "The New York Times" e
colabora com as revistas "Newsweek" e "The Weekly Standard" e
com a rede de TV CNN, para saber o que tinha mudado na elite
americana depois dos ataques terroristas de setembro.
Leia abaixo sua opinião:
Folha - Os "bobos" mudaram depois de 11 de setembro?
David Brooks - Sim, mudaram
muito. Por exemplo, eles eram
muito preocupados com a vida
privada e pouco interessados na
vida pública. O mundo além de
suas caminhonetes e mansões
não era muito excitante. Agora,
perceberam que a vida privada requer proteção pública, então surgiu um grande interesse no governo e sua política externa.
Antes disso, havia o sentimento
de que o comércio era mais importante do que a política e que os
verdadeiros heróis eram pessoas
como Bill Gates. Mas agora, que
tantas pessoas morreram aqui e
continuam morrendo no Afeganistão, o dono da Microsoft já não
se parece tanto com um herói.
Folha - E isso é temporário?
Brooks - Algumas coisas não serão temporárias, as pequenas mudanças no estilo de vida devem
permanecer. Se você perguntar o
que eles estão comprando ou se
eles estão indo mais à igreja ou se
eles estão se juntando a alguma
organização, então não houve
muitas mudanças.
Mas houve uma mudança na
auto-estima, no sentimento de
que nós temos o poder de mudar
o mundo e que deveríamos fazer
isso. Então, há um interesse em
usar essas grandes instituições, o
governo para melhorar o mundo.
Acho que o interesse na vida pública não será temporário.
Folha - De que maneira os EUA em
geral mudaram?
Brooks - Vejo principalmente
mudança nos jovens. A única coisa que os mais novos sabiam sobre política era o escândalo Monica Lewinski. Agora estão mais ligados ao resto do mundo. E mais
ligados em poder e política.
Acreditam que os EUA têm
uma missão no mundo, as pessoas tinham se esquecido disso,
esse conceito vai e vem na cultura
americana. De vez em quando,
historicamente falando, as pessoas passam a acreditar que os
EUA devem ser um país missionário em relação à democracia.
Folha - O sr. acredita nisso?
Brooks - Sim. O país foi fundado
com uma declaração de independência que acredita que todos os
seres humanos nascem com uma
série de direitos, e basicamente
esses direitos são democráticos.
Acredito neles, a maioria dos
americanos, também.
E nós devemos fazer o que for
necessário para ajudar que outros
países também sejam tão democráticos quanto o nosso e que descubram a própria democracia. E
que todos os governos que não
são democráticos não devem ser
considerados legítimos.
Folha - Por falar em patriotismo
exagerado, o editor da revista "Vanity Fair" deu uma declaração no
calor dos dias que se seguiram a 11
de setembro da qual provavelmente se arrepende hoje. Segundo ele,
a ironia tinha acabado. O sr. concorda com isso?
Brooks - Ele tentou corrigir depois dizendo que o que tinha acabado era o "ironing" (passar roupa a ferro, em inglês). (risos) Bem,
o país ficou mais conformista depois de 11 de setembro, mas quanto mais nos distanciamos da data
mais perdemos isso e voltamos a
ser mais parecidos com antes. A
cultura popular continua tão estúpida e pouco séria quanto era
antes.
Folha - Se você fosse escrever
"Bobos" hoje, sairia igual?
Brooks - Seria muito diferente.
Posso garantir que ninguém teria
ligado para o livro. Algumas coisas que escrevi continuam valendo, como por exemplo o que
acontece quando as pessoas educadas ganham dinheiro, mas as
piadas do livro, as piadas sobre
compras, por exemplo, não teriam mais muita graça.
Folha - Por falar nisso, qual a nova moda entre os bobos?
Brooks - Uma coisa importante é
o colapso das empresas pontocom e o colapso da Enron. O
"New York Times" publicou outro dia uma foto do Kenneth Lay,
o ex-executivo que fez grande
parte das besteiras na Enron, e ele
é um bobo clássico, usando jeans,
Timberland e um blazer.
Antes havia o sentimento de
que você deveria ser um radical.
Independentemente de quem estivesse no governo, essa pessoa
não tinha influência na sua vida.
Agora há mais a procura pela autoridade, pela pessoa que não é
um radical mas tem credibilidade.
Folha - E seu próximo livro?
Brooks - Tenta responder à seguinte questão: "Por que os EUA
parecem tão frequentemente ser
um país estúpido?". Como podemos ser um bom país mas ao tempo parecendo tão estúpido?
Folha - Aliás, bobo em português
quer dizer tolo. O sr. sabia?
Brooks - Soube só depois de escrever o livro. Tem vários significados em outras línguas, se não
me engano em francês quer dizer
um pequeno corte. Mas acho que
a tradução em português e espanhol é a mais apropriada (risos).
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