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Justiça italiana vai julgar agentes da CIA
Grupo de 26 norte-americanos e cinco italianos é acusado de seqüestrar muçulmano em Milão e o levar à Alemanha
Julgamento é o primeiro envolvendo acusados de participação nas operações dos vôos secretos da CIA, ordenadas por Washington
DA REDAÇÃO
A Justiça italiana abriu ontem processo contra 26 americanos e cinco italianos pelo seqüestro de um clérigo muçulmano nas ruas de Milão, ocorrido em 2003. A decisão da juíza
milanesa Caterina Interlandi
consiste no primeiro julgamento de um caso ligado aos vôos
secretos da CIA, a principal
agência de inteligência americana.
O muçulmano egípcio Osama Moustafa Hassan Nasr, conhecido como Abu Omar, que
já estava sendo investigado na
Itália por suspeita de terrorismo, foi seqüestrado em Milão,
em fevereiro de 2003. A Promotoria italiana concluiu que o
seqüestro foi levado a cabo numa operação conjunta do serviço secreto italiano e da CIA.
Abu Omar teria sido levado em
um dos vôos secretos da CIA
para o Egito, via Alemanha.
De acordo com o advogado de
Omar -que foi solto apenas no
domingo passado e ainda está
no Egito-, ele foi torturado enquanto esteve preso.
Dos 26 americanos indiciados, 25 foram identificados como agentes da CIA, e a Justiça
italiana já havia emitido mandados de prisão contra alguns
deles. Entre eles estão os antigos chefes da agência de inteligência dos EUA em Roma, Jeff
Catelli, e em Milão, Robert
Lady. Acredita-se que nenhum
deles esteja mais na Itália.
Entre os italianos acusados
de participação na operação estão o ex-chefe do Sismi (serviço
secreto militar da Itália), Nicolo Pollari, e um de seus assistentes, Marco Mancini.
O Departamento de Estado
dos EUA afirmou, vagamente,
que o caso "é um assunto judicial interno italiano".
Segredo de Estado
Nicolo Pollari, que já prestou
depoimento à Justiça, afirma
que o Sismi não fez nada de errado e que as provas de que está
dizendo a verdade estão protegidas por segredo de Estado.
Mancini diz que a CIA solicitou
ao Sismi ajuda na captura de
Abu Omar, mas os italianos se
recusaram a dar auxílio, pois isso seria ilegal.
Outro italiano acusado, o policial Luciano Pironi, admite
haver detido Omar em Milão
para que agentes da CIA pudessem pegá-lo, mas diz que os
americanos lhe contaram que o
objetivo era recrutar o muçulmano, e que a operação havia
sido aprovada por Roma e por
Washington.
O início do julgamento está
marcado para 8 de junho próximo, e cabe ao governo italiano
decidir se levará a Washington
o pedido da Justiça para que sejam extraditados os 26 americanos, a fim de serem levados à
corte. O governo anterior, do
premiê conservador Silvio Berlusconi, recusou-se a fazê-lo.
Relações diplomáticas
Se o atual premiê, Romano
Prodi, de centro-esquerda, resolver encaminhar o pedido, as
relações diplomáticas entre
Roma e Washington -boas sob
Berlusconi-, devem ser afetadas. Além disso, é muito pouco
provável que os americanos entreguem os agentes.
Assim, o mais provável é que
apenas os italianos compareçam à corte e que os americanos sejam julgados à revelia.
O governo dos EUA já admitiu ter seqüestrado e detido
suspeitos de terrorismo no exterior, mas nega a prática de
tortura. Os seqüestros têm
ocorrido como parte da política
antiterror adotada por Washington após o 11 de Setembro.
O Parlamento Europeu aprovou, na quarta-feira passada,
um relatório sobre a investigação desses vôos secretos da CIA
transportando suspeitos sobre
o continente. A conclusão do
documento foi que os americanos tiveram para tanto a ajuda
de países da comunidade.
No mês passado, a Justiça
alemã expediu mandados de
prisão para ao menos 13 supostos agentes da CIA suspeitos de
haverem participado do seqüestro de um alemão de descendência libanesa e de o haverem levado para o Afeganistão.
Com agências internacionais
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