São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2007

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Coréia não abrirá mão da bomba, afirma ex-negociador americano

Acordo desta semana não muda estratégia de manter arsenal, diz Gary Samore

Kyodo News/Associated Press
Coro militar se apresenta na festa oficial pelos 65 anos do ditador Kim Jong-il, em Pyongyang


MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO

O acordo multilateral assinado na última terça-feira pela Coréia do Norte para congelar seu programa nuclear não significa que o regime comunista decidiu abrir mão de seu arsenal atômico. Pelo contrário, afirma Gary Samore, um dos especialistas americanos que ajudaram o governo de Bill Clinton (1993-2000) a negociar o acordo de 1994 com Pyongyang, cujos termos são parecidos com o desta semana.
"A Coréia do Norte tomou a decisão estratégica de que precisa manter seu arsenal atômico, e este acordo não muda isso", disse Samore à Folha, por telefone. "É extremamente improvável que a Coréia do Norte concorde em abrir mão de sua capacidade bélica. Na melhor das hipóteses, este acordo estabelece limites para o arsenal norte-coreano, mas não obtém o seu desarmamento nuclear."
Para Samore, Pyongyang assinou o acordo pensando em garantir o abastecimento de recursos energéticos, ganhar tempo e estudar o próximo passo -que não será o desarmamento exigido pelos cinco países co-signatários.
Ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Samore, contudo, discorda dos que vêem o acordo como um incentivo para que outros países invistam em programas nucleares clandestinos para melhorar seu poder de barganha.
"A mensagem ao Irã é a de que os Estados Unidos estão dispostos a entrar num acordo. E isso pode fortalecer o argumento em Teerã de moderados que defendem resolver o impasse por meio de negociações", diz Samore, hoje diretor do Council on Foreign Affairs, em Washington.

Estágios diferentes
Embora a comparação seja inevitável quando se fala de dois países incluídos no "eixo do mal" de George W. Bush, Coréia do Norte e Irã estão em estágios bem diferentes, diz Samore. "A Coréia do Norte tem capacidade para fazer o tipo de provocação que fez em outubro. O Irã ainda está alguns anos longe de ter a bomba."
A provocação a que se refere Samore ocorreu no dia 9 de outubro do ano passado, quando a Coréia do Norte, realizou seu primeiro teste nuclear, numa instalação subterrânea perto da fronteira com a China. O ensaio aumentou o temor mas não o mistério em relação à capacidade militar do país. Qual o tamanho, afinal, da ameaça?
"Ninguém sabe ao certo, pois o programa nuclear é secreto. Mas seria prudente supor que eles têm a capacidade de fabricar armas nucleares de alguma potência e, provavelmente, são capazes de lançá-las nos vizinhos mais próximos, como Coréia do Sul e Japão."
A julgar pelo passado norte-coreano de descumprir promessas, Samore considera que a implementação do acordo assinado nesta semana será problemática. O entendimento de 1994 desabou em 2002 sob acusações do governo Bush de que Pyongyang mantinha um programa secreto de enriquecimento de urânio, o que, para Samore, deve ser verdade.
"Vai ser muito difícil. Este acordo só assegura o congelamento do reator de Yongbyon. Mas não prevê o desmantelamento de outras instalações nucleares e o abandono das armas e do urânio que a Coréia já produziu, o que o acordo de 1994 fazia", diz. "A vantagem é que, desta vez, os EUA não estarão sós para pressionar o país em caso de descumprimento."


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