São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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ATENTADOS EM MADRI

Paris, Berlim e Washington tentam influenciar resposta européia a ataques terroristas de Madri

Guerra ao terror opõe a Europa aos EUA

DA REDAÇÃO

O presidente da França, Jacques Chirac, e o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, defenderam ontem uma união internacional para combater o terrorismo e reiteraram sua "solidariedade" para com as vítimas dos atentados de Madri.
Porém ambos deixaram transparecer divergências em relação ao estilo da guerra ao terror comandada pelos EUA. Schröder, por exemplo, disse que o combate ao terrorismo não deve ser feito apenas com meios militares, defendendo a intensificação do intercâmbio de informações entre os países que dela participam.
"A comunidade internacional deve unir-se para lutar contra o terrorismo com todas as suas forças e sem trégua. A França, como todas as outras democracias, não está livre da ameaça terrorista", afirmou Chirac, em Paris, após reunião com Schröder.
"Diante da ameaça terrorista, mas respeitando as liberdades civis e o Estado de Direito, a Europa protegerá seus cidadãos", afirmou Chirac.
A reunião entre os dois líderes ocorreu num momento em que os EUA tentam influenciar a resposta européia aos atentados de Madri, que mataram 201 pessoas. Ontem George W. Bush encontrou-se com o premiê holandês, Jan Peter Balkenende.
Mas, três dias antes da reunião de ministros europeus em que serão discutidas, em Madri, medidas de combate ao terror, Paris e Berlim também buscam influenciar seus colegas europeus. Na próxima semana, haverá reunião sobre o tema em Bruxelas.
Para Schröder, a guerra ao terror demanda um aumento do controle e da vigilância na Europa, além de maior cooperação européia e transatlântica. Mas ele salientou que a batalha "não será vencida só com a força das armas", já que é preciso "combater as raízes do terrorismo", como o subdesenvolvimento.
O chanceler classificou de "interessantes" as primeiras declarações do futuro premiê espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, sobre o Iraque. Berlim e Paris se opuseram à Guerra do Iraque.
Zapatero disse que, se a ONU não passar a controlar a reconstrução iraquiana, deverá retirar as tropas espanholas do Iraque. Ele disse ainda que buscará acelerar o processo de adoção da Constituição européia. A Espanha, ao lado da Polônia, vem dificultando as negociações sobre a Constituição por temer perder poder.
As declarações de Zapatero sobre o Iraque e os atentados de Madri poderão forçar uma reorganização da reconstrução do Iraque, e os EUA poderão ser obrigados a fazer mais concessões do que gostariam de fazer, dando mais poder à ONU. "A retirada [dos soldados espanhóis] do Iraque é uma decisão soberana. Ela caberá ao novo governo espanhol", declarou Schröder, acrescentando que ainda deverá esperar para ver o modo como isso ocorrerá.
Embora tenham dito que a União Européia deverá reforçar suas ações contra o terrorismo, Schröder e Chirac, principais opositores europeus à guerra, pareceram ser contrários à criação de uma agência de inteligência européia nos moldes da CIA.
A Comissão Européia não deu seu apoio à criação do posto de comissário europeu para o terrorismo, exortando os Estados-membros da UE a aplicar as medidas já existentes, como o mandado de prisão europeu, e a reforçar o intercâmbio de informações entre os serviços de inteligência.


Com agências internacionais


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