São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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Bush faz apelo por união contra os terroristas

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente americano, George W. Bush, exortou ontem a comunidade internacional a continuar "lado a lado" com os EUA na guerra contra o terrorismo e a manter o comprometimento com a atual campanha no Iraque liderada por Washington.
O pedido foi feito durante encontro com o primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Balkenende, dois dias depois de o novo líder espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, anunciar a intenção de retirar suas tropas do Iraque.
Assim como a Espanha, a Holanda tem hoje 1.300 homens no Iraque e pretende retirar seus soldados em meados de 2004.
"É essencial que continuemos todos lado a lado com o povo iraquiano. E nós concordamos que um Iraque livre é essencial para a conquista de um mundo mais seguro", disse Bush.
Balkenende respondeu apenas que a comunidade internacional deveria continuar "unida em sua solidariedade e luta contra esses terríveis ataques" -referindo-se às ações terroristas da semana passada em Madri.
Procurando evitar a diminuição do apoio internacional, Bush também afirmou ao seu colega holandês na Casa Branca que a campanha iraquiana faz parte da guerra contra a rede terrorista Al Qaeda, responsável pelos ataques do 11 de Setembro e principal suspeita dos ataques em Madri.
"Gostaria de lembrar aos cidadãos holandeses que a Al Qaeda tem interesses no Iraque por uma razão: eles já sabem que o Iraque é um novo front na guerra contra o terror e que um Iraque livre espalhará a liberdade e a democracia em várias regiões do Oriente Médio", afirmou Bush.
Antes do término do encontro, Bush completou: "Agora, o primeiro-ministro terá de tomar a decisão apropriada. Ele tem uma escolha a ser feita".

Pesquisa
O apelo de Bush ocorreu no mesmo dia em que uma pesquisa realizada em nove países mostrou os níveis mais baixos de apoio internacional aos EUA desde 2002, quando o primeiro levantamento do tipo foi feito. Os dados revelaram ainda níveis recordes no sentimento antiamericano entre a população de países islâmicos.
A pesquisa foi realizada pelo Centro de Pesquisas Pew entre 8.000 habitantes de nove países (EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, Turquia, Paquistão, Jordânia e Marrocos) dias antes dos atentados de Madri.
"A conclusão básica é que estamos vivendo hoje em um mundo dividido e perigoso onde os EUA não são vistos como uma nação confiável", disse à Folha Madeleine Albright, ex-secretária de Estado do governo Bill Clinton (1993-2001) logo depois da divulgação da pesquisa.
No Reino Unido, na França e na Alemanha, o apoio à política internacional norte-americana caiu 17, 26 e 23 pontos, respectivamente, entre 2002 e 2004.
Ao mesmo tempo, houve um aumento significativo entre os três países na cobrança por políticas externas "européias", independentes dos EUA.
Entre os países islâmicos, 70% dos turcos, 66% dos marroquinos e 70% dos jordanianos afirmaram ser "justificáveis" ataques terroristas contra norte-americanos em qualquer parte do mundo e contra todo ocidental em solo iraquiano.
Os russos também aliaram-se às populações dos quatro países islâmicos citados na pesquisa que esperam "uma piora" substancial na situação dos iraquianos depois da derrubada do ex-ditador Saddam Hussein.
"O cenário internacional hoje é semelhante ao clima lá fora", disse Andrew Kohut, diretor do Pew, referindo-se à chuva torrencial e ao frio de -1C grau que envolviam Washington ontem.
Com exceção dos próprios EUA, a maioria da população dos demais oito países condenou a liderança de Bush, com taxas variando entre 57% (Reino Unido) a 96% (Jordânia).


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