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ARTIGO
Mentalidade da guerrilha é militar
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em seus "Cuadernos de
Campaña", anotações sobre as
Farc, Manuel Marulanda Vélez
deixa transparecer o que parece vigente até hoje. A formação
guerrilheira é de mentalidade
sobretudo militar. São as armas, não as idéias, os principais
objetos de combate; o que leva à
conclusão de que elas só podem
ser destruídas militarmente.
Estariam se desintegrando, como dizem especialistas, depois
do "tiro no coração" que foi a
morte de seu segundo no comando? Um aprendizado de
quase meio século de sobrevivência no mato não se esvai de
uma hora para outra.
Marulanda é o nome de guerra de Pedro Antonio Marín,
mais conhecido como "Tirofijo", ou tiro certeiro, apelido que
define seu campo preferencial
de atuação. Ele é o mais velho
guerrilheiro do mundo -quase
80 anos-, já foi dado como
morto e não se limita a ser uma
lenda. É a figura dominante entre os sete comandantes do estado-maior das Farc.
Militarismo à parte, Marulanda insiste em que as Farc
continuam comprometidas
com os "ideais básicos do socialismo", como as nacionalizações. Foi o que declarou em rara entrevista à "Semana", publicação colombiana. Também
disse que "o povo não pode
morrer de fome, não ter casa,
carros, teto sobre suas cabeças,
ficar sem educação, saúde, enquanto outros têm prédios regados a dólares".
A construção de um verdadeiro exército, submetido a
manuais militares, teria partido da disposição de ter uma
tropa de combate de formato
convencional, com recrutas,
soldados, oficiais e comandantes. É complicado lidar com as
Farc politicamente, como
constatou em 1999, num episódio bizarro, o presidente na
época da Bolsa de Valores de
Nova York, Richard Grasso.
Ele foi ao reduto da guerrilha,
num território do tamanho da
Suíça onde ela operava livremente, com sua mensagem capitalista. Nunca de soube com
exatidão quem foi seu interlocutor, se o próprio "Tirofijo" ou
Raúl Reyes, o vice, morto agora.
Grasso solicitou o encontro
para discutir "investimentos
estrangeiros e o futuro papel
dos negócios dos EUA na Colômbia". Ainda por cima convidou os líderes da guerrilha a visitarem a bolsa, "para que conhecessem o mercado pessoalmente". A incursão de Grasso
teve o aval do governo colombiano, na época em negociação.
As Farc entraram firmes no
comércio de drogas, assumindo
uma parcela do que já havia se
instalado em cada setor da sociedade colombiana, como
mostrou o chamado Processo
8.000, a cargo da procuradoria-geral. Tratou-se de ampla investigação judicial sobre a inserção do narcotráfico na sociedade colombiana, envolvendo sobretudo os Três Poderes.
O narcotráfico colocou o próprio gabinete presidencial na
geografia de influência dos narcos, além de parlamentares,
magistrados etc. Num mesmo
sistema de faturamento entraram os reféns, como objetos de
troca que integram o orçamento de uma organização mais militar do que guerrilheira.
O jornalista NEWTON CARLOS é especialista
em questões internacionais
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