São Paulo, terça, 17 de março de 1998

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SOB SUSPEITA
Presidente se diz "atônito" com acusação de assédio sexual feita por ex-correligionária
Clinton nega culpa em novo escândalo

Associated Press/"60 Minutes"
Kathleen Willey, durante entrevista concedida ao programa de TV "60 Minutes", da rede de televisão CBS


CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

O presidente dos EUA, Bill Clinton, disse ontem estar "atônito e desapontado" com as acusações de assédio sexual feitas por Kathleen Willey, que trabalhou como voluntária na sua campanha presidencial de 1992 e na Casa Branca nos primeiros anos de governo.
"Eu já disse que nada de impróprio ocorreu", afirmou ele ontem em relação ao encontro, em 1993, no Salão Oval da sede do governo dos EUA. Willey declarou ao programa "60 Minutes" da rede CBS de TV, no domingo, que Clinton a abraçou, beijou na boca, pôs a mão em seus seios e colocou a mão dela sobre a sua região genital.
Willey também disse que sua primeira reação foi querer dar um tapa em Clinton. "Mas você não estapeia o presidente dos EUA."
Suicídio do marido
Ela havia pedido audiência com o presidente para lhe pedir um emprego pago na Casa Branca, porque seu marido enfrentava dificuldades econômicas. Na mesma tarde do encontro com Clinton, o marido se matou.
No seu depoimento em juízo na ação que Paula Jones move contra ele por assédio sexual, Clinton disse que pode ter dado "um beijo na testa" de Willey para confortá-la durante o encontro em 1993. "Ela estava muito agitada e eu posso tê-la abraçado e beijado na testa."
A presidente da National Organization of Women (NOW), a mais importante organização feminista dos EUA, Patricia Ireland, disse que "se a história de Willey for verdadeira, isso é mais do que o ato de um homem mulherengo, isso é ataque sexual". Ireland tem apoiado Clinton até agora nas acusações de mulheres contra ele.
Willey, 51, se recusou a falar sobre o caso por anos. Mas disse à CBS que "houve muita mentira, muitas vidas destruídas. Chegou o momento de contar a verdade".
A entrevista de Willey reavivou a crise do governo Clinton iniciada quando o promotor independente Kenneth Starr passou a investigar se o presidente pode ter cometido crimes de falso testemunho e obstrução da Justiça para esconder suposto caso com a ex-estagiária do governo Monica Lewinsky.
Clinton nega todas as acusações. A primeira-dama, Hillary Clinton, as credita a uma "conspiração da extrema direita". Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos norte-americanos, embora ache que Clinton mente, mantém avaliação positiva de seu governo.
A ex-funcionária da Casa Branca Linda Tripp, a mesma que gravou conversas em que Lewinsky diz ter feito sexo com Clinton por 18 meses, afirma ter cruzado com Willey logo após o encontro com o presidente e que ela estava com a blusa entreaberta, o rosto manchado de batom e em lágrimas. Tripp diz que Willey lhe relatou ter sido sexualmente atacada por Clinton.
Na entrevista à CBS, Willey afirmou que Clinton lhe disse, enquanto a abraçava e bulinava: "Tenho vontade de fazer isso desde a primeira vez em que a vi".



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