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ARTIGO
Atitude dos EUA foi tola
PAUL KRUGMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Muitas pessoas, e eu me incluo
entre elas, concordariam em que
Hugo Chávez não é o presidente
de que a Venezuela precisa. Acontece, porém, que ele é o presidente
que a Venezuela elegeu -livremente, justamente e constitucionalmente. É por isso que todos os
países democráticos do hemisfério ocidental -não importa o
quanto desgostem de Chávez-
criticaram o golpe contra ele.
Todos os países democráticos,
quer dizer, exceto um.
A BBC colocou desta forma:
"Longe de condenarem a retirada
de um presidente democraticamente eleito, autoridades dos
EUA atribuíram a culpa da crise
ao próprio Chávez", e elas estavam "claramente satisfeitas com o
resultado" -embora o governo
interino tenha abolido o Legislativo, o Judiciário e a Constituição.
Provavelmente, elas ficaram
menos satisfeitas quando o golpe
se encerrou. A BBC de novo: "A
volta de Chávez fez o governo em
Washington parecer estúpido".
Condoleezza Rice, a conselheira
para assuntos de segurança nacional, não ajudou a mudar essa
impressão quando, incrivelmente, advertiu Chávez de "respeitar o
processo constitucional". A pior
coisa nesse episódio é a traição de
nossos princípios democráticos;
as palavras "do povo, pelo povo,
para o povo" não deveriam ser seguidas da frase "desde que isso
sirva aos interesses dos EUA".
Nossa atitude em resposta ao
golpe na Venezuela foi tola. É de
nosso interesse que a América Latina saia de seu ciclo político tradicional, em que populismos se
alternam com ditaduras militares.
Tudo o que diz respeito aos EUA
será melhor se nós tivermos vizinhos estáveis. Mas como essa estabilidade seria alcançada? A reforma econômica poria fim às
tentações do populismo; a reforma política poria fim ao risco de
uma ditadura. Nos anos 1990, em
uma iniciativa própria, mas com
o encorajamento dos EUA, a
maioria dos países latino-americanos promoveu reformas dramáticas na economia e na política. Os resultados foram mistos.
Do lado econômico, onde a esperança era maior, as coisas não
evoluíram bem. Não há milagres
econômicos na América Latina.
A crise no México, no Brasil e na
Argentina não colocou esses países nas mãos de radicais ou ditadores. A razão é que o lado político progrediu mais do se esperava.
A América Latina se tornou
uma região de democracias. Os
EUA esperavam estabilidade baseada em uma prosperidade vibrante, mas o que obteve foi estabilidade apesar dos revezes econômicos, graças à democracia. As
coisas podiam ser bem piores.
Apesar de populista, Chávez foi
eleito. O que os EUA esperavam
ganha com a queda dele? Lá estávamos nós lembrando todo mundo dos tristes dias em que qualquer candidato a ditador de direita podia contar com o respaldo
dos EUA.
Nós nos alinhamos com um incompetente grupo de golpistas.
Mesmo se o golpe tivesse sido
bem-sucedido, nosso comportamento teria sido muito estúpido.
Tínhamos uma boa coisa -uma
atmosfera nova de confiança, baseada em valores democráticos
compartilhados. Como pudemos abrir mão dela tão casualmente?
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