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REVIRAVOLTA NA VENEZUELA
Governo admite encontros antes do levante, mas diz que negou apoio a seus planos; pessoal diplomático não essencial deixa Caracas
EUA admitem contato com os golpistas
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A Casa Branca admitiu ontem
que funcionários norte-americanos se encontraram com os venezuelanos que tentaram dar um
golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez, mas negou
que tenha tido participação no levante da semana passada.
"Nós dissemos de forma explícita a líderes oposicionistas que os
EUA não iriam apoiar um golpe",
afirmou o porta-voz da Casa
Branca, Ari Fleischer. O jornalista
admitiu, no entanto, que funcionários da administração George
W. Bush se encontraram com tais
líderes antes da tentativa, inclusive com o empresário e presidente
por dois dias Pedro Carmona.
"Nossos funcionários se encontraram com um leque amplo de
venezuelanos nos últimos meses", disse Fleischer. "Incluindo
representantes de associações comerciais, como o ex-presidente
interino Carmona, assim como
vários nomes pró-Chávez."
A informação foi publicada ontem em reportagem do jornal
"The New York Times", que vai
adiante: "Representantes do governo Bush se encontraram várias
vezes nos últimos meses com os
líderes da coalizão que derrubou
(...) Hugo Chávez e concordaram
com eles que Chávez deveria ser
removido do poder".
Segundo o texto, as pessoas ouvidas apresentaram versões conflitantes sobre o conteúdo do que
foi falado a respeito dos meios de
depor Chávez: uma das que participaram da reunião diz que insistiu para que fossem usados meios
constitucionais, como um referendo; já um funcionário do Departamento da Defesa disse que a
mensagem do governo foi menos
categórica. "Nós não estávamos
desencorajando as pessoas" a dar
o golpe, disse ao "NYT".
Na mesma linha de negativa de
participação foi a reação oficial do
Pentágono. Segundo a porta-voz
Victoria Clarke, o secretário-assistente da Defesa Roger Pardo-Maurer, que cuida da região, teria
se encontrado com o general venezuelano Lucas Rincón e dito
que os EUA não apoiariam golpe
ou ação inconstitucional.
Os dois países são opositores
declarados e têm um histórico de
confrontos que antecede o golpe.
Já no final de fevereiro o Departamento de Estado vinha a público
dizer que tinha sido procurado
por militares anti-Chávez, mas
que não apoiaria nada fora das
vias constitucionais. Chávez irritava o país ao manter relações
amigáveis com inimigos declarados dos EUA, como Saddam Hussein e Fidel Castro, e ao aliar-se ao
cartel da Opep.
Mesmo com as negativas oficiais de ontem, a reação tíbia do
Departamento de Estado ao golpe
continuou a gerar críticas. A começar pelo editorial do "New
York Times", que havia comemorado a queda de Chávez no sábado e fez um mea culpa ontem.
"Essa reação [a comemoração
do Departamento de Estado pela
queda de Chávez", com a qual nós
havíamos concordado, desconsiderou a maneira não-democrática pela qual ele foi removido", diz
o texto. "Depor à força um líder
democraticamente eleito, não importa quão mal ele tenha se saído,
é algo que não deveria jamais ser
comemorado."
Opinião mais dura tem o democrata Joe Biden, presidente do comitê de Relações Exteriores do Senado. "O departamento foi inepto
e prematuro, para dizer o mínimo." Para ele, os EUA encontrarão dificuldades para seguir agindo como o defensor da democracia no continente.
Segundo analistas políticos de
Washington que falaram na condição de anonimato com membros do governo Bush, o sentimento de arrependimento é geral
também na Casa Branca.
Ainda ontem, por precaução, o
Departamento de Estado norte-americano convocou de volta da
Venezuela o pessoal diplomático
não-essencial e familiares. O órgão aconselha que americanos
evitem o país e oferece aviões para
os que já estão lá.
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