São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 2002

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EUROPA

Segundo sindicatos, 13 milhões de pessoas participaram de paralisação para protestar contra reformas trabalhistas

Milhões de italianos aderem a greve geral

DA REDAÇÃO

Milhões de italianos aderiram a uma greve geral ontem para protestar contra reformas trabalhistas propostas pelo governo.
Os transportes aéreos e ferroviários pararam; escolas, bancos e agências dos correios fecharam; hospitais só prestaram serviços de emergência; e linhas de montagem nas maiores fábricas do país não funcionaram. Os grevistas, grande parte deles carregando bandeiras, encheram praças em todo o país, apitando e gritando slogans contra o governo.
Em Roma, o cineasta Roberto Benigni ("A Vida É Bela"), falou a manifestantes reunidos na praça do Povo. "É uma grande manifestação", disse, sob aplausos e gritos de aprovação. "Tudo é belo!"
"Todos que não forem Berlusconi pulem!", gritavam manifestantes em Florença -e saltavam.
Líderes sindicais disseram que o premiê italiano, Silvio Berlusconi, teria de recuar diante do "poder do povo" e desistir de planos controversos para facilitar a demissão de funcionários de empresas.
Berlusconi afirmou querer retomar negociações com os sindicatos, mas insistiu em que reformas são necessárias. "O governo quer o diálogo, mas as reformas são necessárias. Há muita boa vontade. Muitas coisas estão sobre a mesa, e há muitas possibilidades de discussão", disse o premiê.
A polêmica em torno da proposta ficou mais emotiva no mês passado, quando um de seus autores, o assessor do Ministério do Trabalho Marco Biagi, foi morto por extremistas de esquerda.
Os três maiores sindicatos italianos estimaram que cerca de 13 milhões dos 21 milhões de trabalhadores italianos aderiram à paralisação -a primeira greve geral em tempo integral no país em 20 anos- e que ao menos 2 milhões de pessoas participaram de manifestações de protesto. Mas, para observadores independentes citados pela Reuters, os grevistas eram cerca de 6 milhões.
"É um dia extraordinário", disse o líder do CGIL, o maior sindicato da Itália, Sergio Cofferati, em Florença. "Governo e empresários perceberão que não pararemos até atingirmos nossos objetivos."
O objetivo da greve era protestar contra uma parte da reforma proposta por Berlusconi: um ajuste no artigo 18 do código trabalhista da Itália, que obriga as empresas a readmitir qualquer pessoa demitida sem justa causa.
Companhias italianas afirmam achar quase impossível demitir funcionários sem entrar em longas e complexas negociações com sindicatos, o que cria uma mentalidade de "empregos vitalícios" que, segundo o governo, sufoca o mercado de trabalho e prejudica o desenvolvimento industrial.
Mas sindicatos e trabalhadores dizem que o artigo 18 é a pedra de toque dos direitos trabalhistas e que as reformas podem ser o começo de seu fim. "Estamos protestando contra o governo com olhos no futuro. Há um risco de termos de engolir leis muito piores que a reforma do artigo 18", disse Martina Rafanelli, 18, que balançava uma enorme bandeira vermelha do CGIL em Florença.
As empresas começaram no fim da tarde a estimar os prejuízos do dia. O segundo maior sindicato da Itália, CISL, disse que 90% dos funcionários da Fiat e 85% dos da Pirelli aderiram à greve. Mas, segundo a Fiat, a maior empregadora do setor privado da Itália, 50% de seus empregados pararam.
O Ministério do Trabalho declarou que esperaria sindicatos e empresários apresentarem propostas antes de retomar negociações.


Com agências internacionais


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