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EUROPA
Premiê e todo o gabinete renunciam após publicação de relatório que diz que políticos falharam ao não evitar atrocidade
Massacre na Bósnia em 95 derruba governo holandês
DA REDAÇÃO
Todo o governo holandês, liderado pelo premiê Wim Kok, renunciou ontem por causa de suas falhas durante o massacre de Srebrenica (1995) -a pior atrocidade acontecida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A renúncia em massa de todo o
gabinete ocorreu poucos dias depois da publicação de um relatório que condena a atuação do governo holandês durante o massacre, pois ele deu a seus soldados
uma missão impossível -proteger o encrave de Srebrenica. Nele,
em meados de 1995, mais de 8.000
homens e meninos muçulmanos
foram mortos pelas tropas sérvias. O caso ocorreu perto do fim
da Guerra da Bósnia (1992-1995).
"A comunidade internacional
não conseguiu oferecer proteção
suficiente às pessoas na chamada
"zona de segurança'", declarou
Kok, no Parlamento, após a renúncia de seus 29 ministros.
"A comunidade internacional,
na qual a Holanda desempenhava
um papel especial no que se refere
a essa questão, foi incapaz de evitar a queda do encrave e o genocídio cometido pelos sérvios da
Bósnia em seguida", disse o premiê após anunciar sua renúncia.
Entretanto Kok salientou que os
responsáveis pelo terrível massacre eram os sérvios da Bósnia, que
tomaram o encrave em julho de
1995. O premiê mencionou também o papel desempenhado por
Ratko Mladic, líder militar dos
sérvios da Bósnia durante o conflito, acusado de crimes de guerra
pela corte da ONU e fugitivo.
A rainha Beatrix, chefe de Estado, pediu imediatamente a Kok
que formasse um governo interino com o que sobrara de sua coalizão (de três partidos).
Esse governo deve controlar o
país por pouco tempo, já que há
eleições marcadas para 15 de
maio próximo.
Quase metade dos 19 governos
holandeses do pós-guerra caiu
antes de terminar seu mandato.
Mas a velocidade da queda do gabinete de Kok após a divulgação
do relatório surpreendeu os analistas políticos holandeses.
Relatório duro
O documento oficial publicado
na semana passada condena duramente a atuação holandesa na
queda de Srebrenica. Ele acusa
militares graduados e políticos de,
involuntariamente, ter colaborado nos esforços de limpeza étnica
empreendidos pelos sérvios da
Bósnia, que não tiveram problemas para suplantar a resistência
das forças da ONU que protegiam
o encrave.
Em Srebrenica, uma cidade
bósnia situado perto da fronteira
com a Sérvia, 110 soldados holandeses levemente armados -à serviço da ONU- tinham a missão de proteger moradores e refugiados muçulmanos, defendendo o
que, segundo as Nações Unidas,
deveria ser uma "zona de segurança". Os sérvios da Bósnia tomaram a cidade sem que nenhum tiro fosse disparado.
O relatório do Instituto para
Documentação de Guerra da Holanda (IDGH), que foi encomendado pelo governo em 1997, concluiu que os soldados holandeses
tinham, involuntariamente, ajudado na "limpeza étnica", pois tinham colaborado na organização
da retirada de milhares de muçulmanos do encrave.
As mulheres e as meninas conseguiram fugir para áreas controladas pelos muçulmanos, mas a
maioria dos homens e dos meninos foi morta pelos sérvios da
Bósnia.
Mas as críticas mais duras do relatório foram reservadas para os
líderes políticos e militares holandeses. Afinal, segundo o documento, eles enviaram seus soldados a Srebrenica sem um objetivo
claro e com um mandato sem grande legitimidade.
O caótico fim da coalizão de
Kok, que contava com o Partido
Trabalhista PVDA, com o liberal
VVD e com o centrista D66, mancha a carreira do popular primeiro-ministro. Este, de acordo com analistas políticos, merece crédito
pela queda dos níveis de desemprego e pela recente recuperação
econômica do país.
A coalizão de Kok não vinha obtendo bons resultados nas pesquisas de intenção de voto recentes.
Uma aliança de centro-direita
aparece em primeiro lugar nas
pesquisas e desponta como provável principal força nas eleições
de maio.
Com agências internacionais
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