São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 2002

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EUROPA

Premiê e todo o gabinete renunciam após publicação de relatório que diz que políticos falharam ao não evitar atrocidade

Massacre na Bósnia em 95 derruba governo holandês

DA REDAÇÃO

Todo o governo holandês, liderado pelo premiê Wim Kok, renunciou ontem por causa de suas falhas durante o massacre de Srebrenica (1995) -a pior atrocidade acontecida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A renúncia em massa de todo o gabinete ocorreu poucos dias depois da publicação de um relatório que condena a atuação do governo holandês durante o massacre, pois ele deu a seus soldados uma missão impossível -proteger o encrave de Srebrenica. Nele, em meados de 1995, mais de 8.000 homens e meninos muçulmanos foram mortos pelas tropas sérvias. O caso ocorreu perto do fim da Guerra da Bósnia (1992-1995).
"A comunidade internacional não conseguiu oferecer proteção suficiente às pessoas na chamada "zona de segurança'", declarou Kok, no Parlamento, após a renúncia de seus 29 ministros.
"A comunidade internacional, na qual a Holanda desempenhava um papel especial no que se refere a essa questão, foi incapaz de evitar a queda do encrave e o genocídio cometido pelos sérvios da Bósnia em seguida", disse o premiê após anunciar sua renúncia.
Entretanto Kok salientou que os responsáveis pelo terrível massacre eram os sérvios da Bósnia, que tomaram o encrave em julho de 1995. O premiê mencionou também o papel desempenhado por Ratko Mladic, líder militar dos sérvios da Bósnia durante o conflito, acusado de crimes de guerra pela corte da ONU e fugitivo.
A rainha Beatrix, chefe de Estado, pediu imediatamente a Kok que formasse um governo interino com o que sobrara de sua coalizão (de três partidos).
Esse governo deve controlar o país por pouco tempo, já que há eleições marcadas para 15 de maio próximo.
Quase metade dos 19 governos holandeses do pós-guerra caiu antes de terminar seu mandato. Mas a velocidade da queda do gabinete de Kok após a divulgação do relatório surpreendeu os analistas políticos holandeses.

Relatório duro
O documento oficial publicado na semana passada condena duramente a atuação holandesa na queda de Srebrenica. Ele acusa militares graduados e políticos de, involuntariamente, ter colaborado nos esforços de limpeza étnica empreendidos pelos sérvios da Bósnia, que não tiveram problemas para suplantar a resistência das forças da ONU que protegiam o encrave.
Em Srebrenica, uma cidade bósnia situado perto da fronteira com a Sérvia, 110 soldados holandeses levemente armados -à serviço da ONU- tinham a missão de proteger moradores e refugiados muçulmanos, defendendo o que, segundo as Nações Unidas, deveria ser uma "zona de segurança". Os sérvios da Bósnia tomaram a cidade sem que nenhum tiro fosse disparado.
O relatório do Instituto para Documentação de Guerra da Holanda (IDGH), que foi encomendado pelo governo em 1997, concluiu que os soldados holandeses tinham, involuntariamente, ajudado na "limpeza étnica", pois tinham colaborado na organização da retirada de milhares de muçulmanos do encrave.
As mulheres e as meninas conseguiram fugir para áreas controladas pelos muçulmanos, mas a maioria dos homens e dos meninos foi morta pelos sérvios da Bósnia.
Mas as críticas mais duras do relatório foram reservadas para os líderes políticos e militares holandeses. Afinal, segundo o documento, eles enviaram seus soldados a Srebrenica sem um objetivo claro e com um mandato sem grande legitimidade.
O caótico fim da coalizão de Kok, que contava com o Partido Trabalhista PVDA, com o liberal VVD e com o centrista D66, mancha a carreira do popular primeiro-ministro. Este, de acordo com analistas políticos, merece crédito pela queda dos níveis de desemprego e pela recente recuperação econômica do país.
A coalizão de Kok não vinha obtendo bons resultados nas pesquisas de intenção de voto recentes. Uma aliança de centro-direita aparece em primeiro lugar nas pesquisas e desponta como provável principal força nas eleições de maio.


Com agências internacionais


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