São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 2002

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Igreja em Belém sofre tiroteio "brabo"

DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Houve ontem, por volta de 18h30 (12h30 em Brasília), um tiroteio "brabo" contra a igreja da Natividade, na definição do padre brasileiro Marcos Koneski, um dos cerca de 60 religiosos que se encontram há 15 dias confinados no santuário, junto com de 150 a 200 palestinos, quase todos armados.
"A gente estava se preparando para jantar quando correram rumores de que havia movimento no terraço. Aí, começaram os tiros de metralhadora [dos israelenses", e a gente sentiu que houve resposta [dos palestinos"", relatou à Folha o padre brasileiro.
Padre Marcos está cansado e assustado. Ainda mais que, no domingo à noite, ele estava escovando os dentes, com a porta aberta para deixar entrar mais luz da rua (não há luz no complexo da igreja), quando ouviu o ruído de um disparo. Afastou-se instintivamente e a bala bateu na pia.
"Não durmo mais no meu quarto nem apareço mais na janela", diz o padre. Ele conta que seu quarto, no último andar do convento dos franciscanos, um dos três que fazem parte do complexo, dá justamente para um morrinho em que forças israelenses estão entrincheiradas.
Qualquer vulto que se mova é tomado como um atirador palestino. "Eu também atiraria", brinca o padre, apesar do nervosismo e da angústia de quem não tem luz e vê escassear a água.
O tiroteio "brabo", no linguajar desse catarinense de 63 anos, fez com que os padres se atirassem ao chão e rastejassem para chegar ao refeitório.
Muitos dos religiosos não haviam dormido à noite, porque os soldados israelenses que fazem o cerco à igreja deixam os alto-falantes ligados a noite inteira, como parte da guerra psicológica para obter a rendição dos palestinos.
Padre Marcos não sabia se houve ou não danos à igreja, mas a correspondente da rede britânica BBC na cidade, Caroline Hawley, diz que foi atingida uma torre do sino e que havia fumaça saindo da praça da Manjedoura, onde fica o complexo.
As autoridades de Israel confirmam que suas tropas estavam em movimento na área, mas negam que tenham disparado contra a igreja. (CR)


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