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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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DIÁRIO DE BAGDÁ

País ainda decide qual será a moeda

JUCA VARELLA E SÉRGIO DÁVILA
ENVIADOS ESPECIAIS

Os dias de Saddam Hussein estão contados.
 
Pelo menos nas cédulas da moeda local, o dinar iraquiano. Embora o ex-ditador ainda enfeite todas as notas, da mais baixa (250 dinares) à mais alta (10 mil dinares), a rejeição do povo, a queda do valor da moeda e a presença maciça de ocidentais no país fizeram o dólar ganhar espaço nas transações.
 
Acontece que os EUA não querem que a economia do Iraque seja dolarizada. Daria um tom "imperialista" demais e não pegaria bem junto à opinião pública mundial, avalia o Departamento de Estado norte-americano.
 
Que, por meio de 14 experts do Departamento do Tesouro que estão se dedicando só a essa questão, chegou à seguinte solução: o chamado "dinar suíço". Trata-se do dinheiro nacional que circulava apenas na região norte do país, controlada pelos curdos. Em vez de Saddam, traz a efígie de religiosos locais e tem esse nome pois as notas foram impressas na Suíça.
 
Acontece que há muito poucas notas em circulação para atender à demanda nacional. A sugestão, avalia o Tesouro, seria oficializar o "dinar suíço" e então encomendar novas cédulas. Tudo, claro, depois do aval do governo provisório, que ainda não se dedicou à questão.
 
Enquanto isso, o dinar oficial, o com Saddam, vive uma situação paradoxal: desvaloriza-se a cada dia como moeda (antes da guerra, a cotação média nos hotéis era de US$ 1 para 2.500 dinares iraquianos, agora, é de US$ 1 para 3.000) e valoriza-se cada vez mais como lembrança. Uma nota de 10 mil dinares já saiu por US$ 150 no site de leilão virtual eBay.
 
Seja como for, o governo provisório da coalizão já decidiu que vai pagar os trabalhadores temporários que contratar em dólar mesmo, US$ 20 por dia. Estima-se que 2 milhões de iraquianos, da população de 26 milhões, fossem funcionários públicos no regime anterior. Grande parte destes deve ser utilizada agora para colocar os serviços essenciais em ordem.
 
O dinheiro ainda não vem do governo norte-americano. Há US$ 1,7 bilhão de saldo do programa da ONU Petróleo por Comida.
 
O dinar pode estar em baixa entre a população, sim, mas nem por isso os saqueadores deixaram de atacar os bancos estatais. Só o Rasheed foi pilhado dezenas de vezes desde o fim de semana. Ontem, os novos policiais iraquianos, sempre acompanhados de marines, chegaram a tempo de pegar os últimos três ladrões, quando estes deixavam o subsolo.
 
Um dos policiais saiu atrás do resto do bando. Voltou sem o carro e sem o cassetete, tomados pela multidão. É que os soldados locais ainda não estão autorizados pelos norte-americanos a portar armas...
 
Os saques em Bagdá também chegaram ao zoológico da cidade. Nos últimos dias, pessoas roubaram os patos que viviam na lagoa local para comer. O resto dos animais não corre tanto perigo. Além de um leão esquálido, o lugar abriga somente dezenas de cachorros que foram abandonados pela elite local quando velhos.
 
Os saqueadores tentaram levar um solitário camelo, mas o bicho não passou pela cerca.
 
Êxodo: deixaram a cidade ontem Geraldo Rivera, o repórter-showman da Fox News, e o grupo de malaios que foi sequestrado na semana passada pela resistência iraquiana, que os confundiu com inimigos locais.


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