São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Congresso cobra Bush por suposta inação diante de ameaças anteriores a 11 de setembro; Casa Branca rebate

Alertas sobre terror abrem crise nos EUA

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O Congresso norte-americano fez acusações duras ao governo um dia depois da revelação de que o presidente dos EUA, George W. Bush, foi alertado pela CIA antes de 11 de setembro de que o terrorista Osama bin Laden poderia estar planejando sequestrar aviões comerciais do país.
Como reação, autoridades do governo e alguns deputados ligados a Bush deram início a uma troca de acusações ao anunciarem que o Congresso havia recebido alertas semelhantes.
"Precisamos fazer uma investigação, precisamos saber quais informações foram enviadas à Casa Branca e o que eles fizeram com elas", disse o líder democrata na Câmara, o deputado Richard Gephardt.
O líder democrata no Senado, Tom Daschle, exigiu de Bush a divulgação do conteúdo "de todos os briefings que foram feitos" pela CIA a Bush.
Daschle pediu ainda a liberação de um memorando escrito em julho de 2001 por um agente do FBI no Estado do Arizona levantando suspeitas sobre pessoas do Oriente Médio que estudavam em escolas de aviação norte-americanas.

Providências
O senador democrata Bob Graham (Flórida), presidente do comitê de inteligência do Senado, disse que ao menos esse memorando deveria ter motivado a Casa Branca, o FBI e a CIA a tomarem providências adequadas para evitar os atentados.
"Como é que alguém pode ter lido esse documento sem que nenhuma luz, fogos de artifício ou foguetes tenham sido acesos em suas cabeças indicando que isso era algo realmente importante?", perguntou Graham.
Desde o ano passado, duas comissões do Congresso examinam a capacidade atual de o governo antecipar novos ataques terroristas e investiga os indícios de atentados contra os EUA disponíveis antes de 11 de setembro.
Gephardt sugeriu ontem que essas investigações podem ser ampliadas. "No momento, temos uma investigação nos comitês de inteligência. Elas podem ou não ser suficientes para completar o serviço".

Possíveis sequestros
A revelação que deu início a essa discussão foi feita pelo jornalista David Martin, especialista em segurança nacional da rede de televisão CBS. Martin revelou na quarta-feira que, antes dos atentados, o presidente Bush recebeu alertas de que o terrorista saudita Osama bin Laden planejava sequestrar aviões norte-americanos.
Antecipando-se à repercussão dessa revelação, a Casa Branca reconheceu na noite de anteontem que Bush recebeu, nas semanas que antecederam os ataques terroristas, relatórios de seu serviço de inteligência mencionando a possibilidade de sequestros de jatos comerciais de companhias aéreas norte-americanas por membros da rede Al Qaeda, de Osama bin Laden.
No entanto a Casa Branca disse que não havia informações sobre o uso de aviões como bombas ou armas e nenhuma indicação adequada sobre a possibilidade de um sequestro se concretizar.
Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, e a assessora de segurança nacional de Bush, Condoleezza Rice, disseram que os primeiros alertas vieram em maio de 2001 e que, no dia 6 de agosto, Bush recebeu uma informação específica sobre o risco de sequestros por meio de um documento da CIA, entregue durante o briefing diário que, naquele dia, foi realizado no rancho do presidente em Crawford, no Texas.
Rice disse ontem que esses alertas eram "genéricos" e que não havia nenhuma indicação quanto a "datas, local ou método de ataque". A assessora disse que as agências de inteligência haviam feito alertas semelhantes "desde setembro de 2000 até o verão de 2001", incluindo ao menos cinco meses da gestão do ex-presidente Bill Clinton. No entanto Rice disse que esses alertas referiam-se "quase que inteiramente" a alvos norte-americanos no exterior.
Rice disse que a Casa Branca agiu corretamente, assegurando-se de que a FAA (a agencia de aviação dos EUA) alertou as companhias aéreas e aeroportos.

Contradição
Ontem, no entanto, o porta-voz das empresas de aviação norte-americanas, Michael Wascom, disse que não tinha informações de quaisquer "alertas ou notificações antes de 11 de setembro relativas a ameaças específicas de segurança contra nenhuma das companhias aéreas".
Alguns senadores e deputados republicanos saíram em defesa de Bush e disseram que, se houve algum erro, o Congresso deve dividir a responsabilidade com a Casa Branca. O senador Richard Shelby (Alabama), membro da comissão de inteligência do Senado presidida por Graham, afirmou que os comitês de inteligência da Câmara e do Senado receberam relatórios semelhantes "ou até mais completos" que aqueles enviados a Bush.
Além disso, Shelby disse que presidente não teve acesso ao memorando escrito pelo agente do FBI no Arizona. "A responsabilidade de juntar todas as informações era do FBI", disse ele.



Próximo Texto: Ainda não há indício de falha de Bush, diz analista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.