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GUERRA SEM LIMITES
Congresso cobra Bush por suposta inação diante de ameaças anteriores a 11 de setembro; Casa Branca rebate
Alertas sobre terror abrem crise nos EUA
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O Congresso norte-americano
fez acusações duras ao governo
um dia depois da revelação de que
o presidente dos EUA, George W.
Bush, foi alertado pela CIA antes
de 11 de setembro de que o terrorista Osama bin Laden poderia estar planejando sequestrar aviões
comerciais do país.
Como reação, autoridades do
governo e alguns deputados ligados a Bush deram início a uma
troca de acusações ao anunciarem
que o Congresso havia recebido
alertas semelhantes.
"Precisamos fazer uma investigação, precisamos saber quais informações foram enviadas à Casa
Branca e o que eles fizeram com
elas", disse o líder democrata na
Câmara, o deputado Richard Gephardt.
O líder democrata no Senado,
Tom Daschle, exigiu de Bush a divulgação do conteúdo "de todos
os briefings que foram feitos" pela
CIA a Bush.
Daschle pediu ainda a liberação
de um memorando escrito em julho de 2001 por um agente do FBI
no Estado do Arizona levantando
suspeitas sobre pessoas do Oriente Médio que estudavam em escolas de aviação norte-americanas.
Providências
O senador democrata Bob Graham (Flórida), presidente do comitê de inteligência do Senado,
disse que ao menos esse memorando deveria ter motivado a Casa Branca, o FBI e a CIA a tomarem providências adequadas para
evitar os atentados.
"Como é que alguém pode ter lido esse documento sem que nenhuma luz, fogos de artifício ou
foguetes tenham sido acesos em
suas cabeças indicando que isso
era algo realmente importante?",
perguntou Graham.
Desde o ano passado, duas comissões do Congresso examinam
a capacidade atual de o governo
antecipar novos ataques terroristas e investiga os indícios de atentados contra os EUA disponíveis
antes de 11 de setembro.
Gephardt sugeriu ontem que essas investigações podem ser ampliadas. "No momento, temos
uma investigação nos comitês de
inteligência. Elas podem ou não
ser suficientes para completar o
serviço".
Possíveis sequestros
A revelação que deu início a essa
discussão foi feita pelo jornalista
David Martin, especialista em segurança nacional da rede de televisão CBS. Martin revelou na
quarta-feira que, antes dos atentados, o presidente Bush recebeu
alertas de que o terrorista saudita
Osama bin Laden planejava sequestrar aviões norte-americanos.
Antecipando-se à repercussão
dessa revelação, a Casa Branca reconheceu na noite de anteontem
que Bush recebeu, nas semanas
que antecederam os ataques terroristas, relatórios de seu serviço
de inteligência mencionando a
possibilidade de sequestros de jatos comerciais de companhias aéreas norte-americanas por membros da rede Al Qaeda, de Osama
bin Laden.
No entanto a Casa Branca disse
que não havia informações sobre
o uso de aviões como bombas ou
armas e nenhuma indicação adequada sobre a possibilidade de
um sequestro se concretizar.
Ontem, o porta-voz da Casa
Branca, Ari Fleischer, e a assessora de segurança nacional de Bush,
Condoleezza Rice, disseram que
os primeiros alertas vieram em
maio de 2001 e que, no dia 6 de
agosto, Bush recebeu uma informação específica sobre o risco de
sequestros por meio de um documento da CIA, entregue durante o
briefing diário que, naquele dia,
foi realizado no rancho do presidente em Crawford, no Texas.
Rice disse ontem que esses alertas eram "genéricos" e que não
havia nenhuma indicação quanto
a "datas, local ou método de ataque". A assessora disse que as
agências de inteligência haviam
feito alertas semelhantes "desde
setembro de 2000 até o verão de
2001", incluindo ao menos cinco
meses da gestão do ex-presidente
Bill Clinton. No entanto Rice disse
que esses alertas referiam-se
"quase que inteiramente" a alvos
norte-americanos no exterior.
Rice disse que a Casa Branca
agiu corretamente, assegurando-se de que a FAA (a agencia de
aviação dos EUA) alertou as companhias aéreas e aeroportos.
Contradição
Ontem, no entanto, o porta-voz
das empresas de aviação norte-americanas, Michael Wascom,
disse que não tinha informações
de quaisquer "alertas ou notificações antes de 11 de setembro relativas a ameaças específicas de segurança contra nenhuma das
companhias aéreas".
Alguns senadores e deputados
republicanos saíram em defesa de
Bush e disseram que, se houve algum erro, o Congresso deve dividir a responsabilidade com a Casa
Branca. O senador Richard
Shelby (Alabama), membro da
comissão de inteligência do Senado presidida por Graham, afirmou que os comitês de inteligência da Câmara e do Senado receberam relatórios semelhantes "ou
até mais completos" que aqueles
enviados a Bush.
Além disso, Shelby disse que
presidente não teve acesso ao memorando escrito pelo agente do
FBI no Arizona. "A responsabilidade de juntar todas as informações era do FBI", disse ele.
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