São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ainda não há indício de falha de Bush, diz analista

RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO

"Certamente não fomos capazes de colocar juntas as peças desse quebra-cabeças, mas ainda não há indícios de que o presidente tenha negligenciado a segurança nacional", afirma Peter F. McCormick, cientista político da Universidade de Nova York (EUA).
"O que deve ser a questão crucial dos próximos dias é: era possível ligar os pontos? Ora, se era, onde foi a falha? Aí o presidente terá de dar explicações."
A atuação presidencial é exatamente a dúvida levantada pelo líder democrata na Câmara, Richard Gephardt: "As autoridades não trabalharam da maneira apropriada? É isso que precisamos descobrir".
"Havia já muitas informações antes de 11 de setembro. Saber disso e não ter tomado providências drásticas pode, politicamente, dar um aspecto de incompetência ao governo Bush", completa McCormick.
Alguns congressistas sustentam que havia informações que, mesmo sozinhas, já dariam razão a ações governamentais mais efetivas do que as tomadas por Bush -o presidente afirma que alertou os órgãos de segurança aérea quando informado de possíveis planos de sequestro de aeronaves.
McCormick, por outro lado, sustenta que houve, principalmente, uma descontinuidade na troca de informações dos serviços de inteligência: "O ponto fraco da cadeia de informações parece ter sido mesmo a falta de intercâmbio e de centralização. Faltou uma direção central. Talvez isso possa ser computado de imediato negativamente ao presidente Bush".
Para ele, o próprio tamanho do esforço antiterrorista pós-setembro pode ter "jogado contra" os serviços de inteligência.
Segundo Anthony Cordesman, professor de estudos sobre segurança nacional na Universidade Georgetown e pesquisador do CSIS (Center for Strategic and International Studies), 41 departamentos e agências federais foram direcionados para investigação e prevenção a terrorismo depois dos atentados de 11 de setembro.
Só o FBI (Birô Federal de Investigação), uma das 32 agências federais que tem como responsabilidade a manutenção da lei, tem 11 mil agentes especiais e 16 mil funcionários de apoio. Baseado em Washington, o birô tem 56 escritórios regionais e aproximadamente 400 escritórios-satélite (onde há apenas um agente).
Além disso, há 40 agentes em postos no exterior com a categoria diplomática de adido legal.
O diretor-geral do FBI, Robert Mueller, já foi obrigado a reconhecer que falhou na análise dos dados e propôs a criação de um "Escritório de Inteligência". A CIA (Agência Central de Inteligência), por sua vez, não trabalha em missões dentro das fronteiras dos EUA.

Próximo problema de Bush
McCormick afirma que as investigações já iniciadas no Congresso devem levar em conta "mais o fator político do que o técnico e administrativo, pois há sempre a necessidade de botar a culpa em alguém".
Estudando os problemas advindos da formação de um orçamento para esse esforço, o professor Cordesman acaba levantando pontos importantes ainda não resolvidos pela "administração central antiterror".
O primeiro é de que o esforço antiterror colocou uma grande máquina em andamento, mas uma máquina complexa.
O professor afirma, num artigo recém-divulgado pelo CSIS, que não há papel definido para o governo federal num planejamento global da distribuição de recursos.
"E aí está o próximo problema de Bush. Parece ter acabado a boa vontade suprapartidária que se seguiu aos atentados. Uma arma que o Congresso usará é a capacidade de segurar o fluxo de dinheiro. Vão fechar as torneiras até que todas as perguntas sejam respondidas", completa McCormick.



Texto Anterior: Guerra sem limites: Alertas sobre terror abrem crise nos EUA
Próximo Texto: Parentes de vítimas organizam o primeiro protesto contra governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.