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Em cúpula, Chávez só ataca via imprensa
Em reuniões, venezuelano até pediu perdão a Merkel; à mídia disse que falar com Uribe seria se rebaixar
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LIMA
O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, exerceu ontem a
sua melhor versão "paz e
amor", a ponto de ter pedido
perdão à chanceler alemã, Angela Merkel, a quem vinculara
ao nazismo na semana passada.
Durante a preparação para a
foto oficial dos participantes da
Cúpula América Latina e Caribe-União Européia, Chávez
cumprimentou Merkel e lhe
deu um beijo no rosto. Depois,
em entrevista à TV peruana,
contou o que dissera: "Se fui
muito duro, que me perdoe".
Não foi o único gesto conciliador de Chávez: em outro momento, chegou a elogiar trechos do discurso do presidente
peruano Alan García na abertura da cúpula. Elogiou, por
exemplo, o fato de García ter falado da necessidade da "política, e não do mercado" [no tratamento das questões sociais].
García é um dos principais
desafetos de Chávez, desde a
campanha eleitoral peruana
em que o venezuelano apoiou o
populista Ollanta Humala.
O comportamento de Chávez
é fácil de explicar: o presidente
de turno da União Européia, o
esloveno Danilo Türk, pediu,
em visita a Caracas, em abril,
que o venezuelano não atrapalhasse a cúpula. Era uma alusão
ao incidente na última Cúpula
Ibero-Americana, em que o rei
da Espanha, Juan Carlos, mandou Chávez, que interrompia
seguidamente a fala do presidente de governo espanhol José Luis Zapatero, calar-se.
Crise regional
Atendendo ao pedido, Chávez deixou os ataques ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, guardados para conversas
com jornalistas. Disse que não
pretende voltar a falar com o
colombiano, pois, para isso, teria que "descer a um pântano".
"O único problema que temos na América do Sul é Uribe.
Todos somos uma mesma irmandade. O único que não se
enquadra é Uribe", disse.
Chávez disse que teve que
"engolir pregos" antes de apertar a mão de Uribe na reunião
do Grupo do Rio, em março,
gesto que havia posto fim à etapa mais aguda da crise regional
iniciada depois que a Colômbia
atacou um acampamento das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano.
Os novos ataques de Chávez a
Uribe vêm depois de, na véspera, a Interpol certificar a autenticidade dos documentos encontrados no computador de
Raúl Reyes, o segundo homem
das Farc, morto na incursão colombiana no Equador.
Pelo que o governo colombiano fez vazar para algumas
publicações, os documentos
demonstram que Chávez não
dá apenas apoio político e retórico ao grupo colombiano mas
também recursos financeiros.
O presidente do Equador,
Rafael Correa, defendeu Chávez e acusou Uribe de cometer
"calúnia" com os documentos
do computador. Uribe, sempre
fora dos salões da cúpula, reagiu, lembrando que a Interpol é
uma organização de que participam 186 países, o que demonstraria que a política colombiana é "transparente" ao
confiar a investigação a instituição de grupo tão numeroso.
Outras reações
Uribe, porém, não recebeu
apenas críticas. Zapatero lhe
deu total apoio por estar enfrentando o "desafio dificílimo"
de "combater um grupo que
deixou tanto sangue, tanta violência, tanto terror ao povo colombiano". Disse também que,
no incidente Colômbia/Equador, o verdadeiro culpado era
um só, as Farc.
Já o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza preferiu defender o diálogo para resolver o conflito regional.
Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência brasileira, jogou esse eventual diálogo para Brasília, no
dia 23, quando há a cúpula da
Unasul (União Sul-Americana). "Nas reuniões fechadas entre os presidentes, esse tema
terá que aparecer", disse.
Ele não atacou nem defendeu os documentos. "Dizem
que se alguém lesse cem páginas por dia, levaria cem anos
para entender tudo."
Já o presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, correu
para o altar ao tratar do tema:
"É um informe mais. Não se deve descartá-lo, mas também
não é a palavra de Deus".
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a Lima a convite da Comissão Européia
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