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ARTIGO
O rosto compassivo da China
GEOFF DYER E MURE DICKIE
DO "FINANCIAL TIMES"
Poucas horas depois do mortífero terremoto em Sichuan, o
primeiro-ministro Wen Jiabao
estava no avião e a caminho do
local do desastre. E, igualmente
importante, acompanhado por
uma câmera de televisão cuja
missão era capturar imagens de
Wen e de seus assessores, de
mangas arregaçadas, estudando mapas e tomando decisões.
Desde então, Wen vem sendo
presença constante na mídia
chinesa. Ele foi mostrado gritando ordens a funcionários do
governo e chorando ao lado de
famílias enlutadas. Quando
equipes de resgate estavam
tentando salvar uma criança
em uma escola que desabou,
Wen estava a postos. "O vovô
Wen está aqui", ele disse, usando um par de tênis encardidos.
Desastres revelam muito sobre a maneira pela qual um país
funciona. Depois do terremoto,
o autoritarismo empreendedor
da China entrou em ação. Os líderes chineses podem não precisar de eleição, mas isso não
significa que lhes seja possível
ignorar a opinião pública.
Assistência efetiva em caso
de desastre é parte do pacto implícito que ajuda a sustentar o
forte apoio ao Partido Comunista. Wen levou esse imperativo político a um nível novo.
Quando nevascas deixaram milhões de pessoas isoladas pouco
antes do feriado de Ano Novo
chinês, em janeiro, ele pediu
desculpas aos passageiros na
estação ferroviária de Changsha, usando um megafone.
Na verdade, o apego à publicidade estava longe de ser um
dos motivos que conduziram o
modesto Wen ao posto de primeiro-ministro, em 2003. Sua
ascensão pela hierarquia resulta de sua competência burocrática e de sua capacidade de sobrevivência política. Nascido
em 1942, em uma região rural,
Wen é filho de professores e se
formou em geologia. Em 1968,
começou a trabalhar no serviço
geológico em Gansu, Província
pobre no noroeste do país. Passou 14 anos por lá.
Novos talentos
Quando Deng Xiaoping lançou uma campanha no começo
dos anos 80 para descobrir novos talentos administrativos,
Wen foi transferido a Pequim.
Ele passou por rápidas promoções que o conduziram ao núcleo da liderança do partido,
mas sua carreira quase acabou
quando dos protestos dos estudantes, em 1989.
Wen era um dos assessores
mais próximos de Zhao Ziyang,
o líder reformista do partido.
Com uma disputa pelo poder
em curso, Zhao visitou a praça
Tiananmen e pediu aos estudantes que partissem antes que
os militares chegassem. Uma
foto famosa mostra Wen em pé,
atrás do líder. Quando a lei
marcial foi decretada, Zhao foi
derrubado. Mas Wen sobreviveu, na opinião de alguns porque era considerado um leal
servidor de seu chefe.
Ainda que ocasionalmente
pareça rígido ao falar com as
pessoas comuns e que alguns
comentários na internet o tenham criticado por monopolizar as atenções, as reações populares vêm sendo favoráveis.
Os vídeos mais populares em
sites chineses, nos últimos dias,
eram imagens de Wen.
Mas Wen também tem sido
discretamente criticado por
não ter causado impacto real
sobre o governo. Os críticos dizem que ele não tem a personalidade necessária para promover mudanças contra o bloqueio dos burocratas. Suas reformas rurais e do seguro social
não atingiram escala necessária para reverter a disparidade
de renda chinesa.
Russell Leigh Moses, um
analista que trabalha em Pequim, diz que o tom emotivo de
Wen é uma resposta às suas dificuldades para impor suas
idéias. Há alguns problemas
para Wen, em sua identificação
com a resposta ao desastre. Há
perguntas difíceis quanto ao
desabamento de escolas. As
boas manchetes não impedirão
uma reação adversa caso as coisas não melhorem.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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