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MULTIMÍDIA
Arafat ainda influencia TV palestina
MARCELO STAROBINAS
EM LONDRES
Uma radical mudança no tom
da programação da televisão palestina, desde a semana passada, é
um indício de que, mesmo enfraquecido durante a atual Intifada,
o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser
Arafat, ainda tem meios de exercer influência sobre a população
da faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Segundo a organização não-governamental israelense Palestine
Media Watch (PMW), a veiculação de propaganda contra Israel
foi quase totalmente suprimida
após Arafat ter declarado um cessar-fogo no início do mês.
A redução das transmissões cujo conteúdo é classificado por Israel como "incitação à violência"
também chamou a atenção de
Aref Hijjawi, vice-diretor do Instituto de Mídia da universidade palestina Birzeit, na Cisjordânia.
"De uns tempos para cá, as rádios
deixaram de tocar só hinos nacionalistas para incluir também músicas de amor e de outros gêneros", disse à Folha, por telefone.
Desde o início da Intifada, em
setembro, a TV controlada pela
ANP vinha transmitindo de 12 a
14 horas diárias de "incitação à
violência", segundo a PMW. Em
telejornais ou boletins de rádio,
reportagens contavam histórias
de crianças palestinas que, no caminho para a escola, eram provocadas por soldados israelenses e
decidiam faltar às aulas para lutar
e jogar pedras. Elas eram apresentadas com heroísmo, prontas para morrer como mártires.
O diretor da PMW, Itamar Marcos, divide a campanha antiisraelense na mídia palestina em dois
tipos: propaganda ideológica e incitação à violência. Segundo ele,
programas de entrevistas e debates são usados para dar um aspecto mais científico à propaganda
ideológica.
Na opinião de Hijjawi, as reclamações de Israel sobre a imprensa
controlada por Arafat não são
completamente sem fundamentos. "Há uma diferença entre a
mídia palestina e a ocidental: a
nossa imprensa se baseia não só
em informação mas também em
opinião e sentimento", afirmou.
"Mas ninguém aqui vai à TV e
convoca as pessoas para sair às
ruas matando gente."
Segundo Hijjawi, "nos últimos
anos, sempre ficaram claras as
mudanças na direção da programação dos meios de comunicação nos territórios palestinos. Do
dia para a noite, observamos alterações nas músicas que tocam no
rádio ou nos programas de TV".
De acordo com a PMW, organização que, apesar de se dizer independente, apresenta idéias próximas às da direita nacionalista israelense, nem mesmo as palavras
cruzadas ficam de fora da propaganda ideológica da ANP.
A recente diminuição da incitação à violência pode ser um indício de que Arafat esteja preparando a população para um eventual
retorno às negociações de paz
com Israel, o que seria o próximo
passo diplomático caso o atual
cessar-fogo se consolide.
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