São Paulo, domingo, 17 de junho de 2001

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MULTIMÍDIA

Arafat ainda influencia TV palestina

MARCELO STAROBINAS
EM LONDRES

Uma radical mudança no tom da programação da televisão palestina, desde a semana passada, é um indício de que, mesmo enfraquecido durante a atual Intifada, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, ainda tem meios de exercer influência sobre a população da faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Segundo a organização não-governamental israelense Palestine Media Watch (PMW), a veiculação de propaganda contra Israel foi quase totalmente suprimida após Arafat ter declarado um cessar-fogo no início do mês.
A redução das transmissões cujo conteúdo é classificado por Israel como "incitação à violência" também chamou a atenção de Aref Hijjawi, vice-diretor do Instituto de Mídia da universidade palestina Birzeit, na Cisjordânia. "De uns tempos para cá, as rádios deixaram de tocar só hinos nacionalistas para incluir também músicas de amor e de outros gêneros", disse à Folha, por telefone.
Desde o início da Intifada, em setembro, a TV controlada pela ANP vinha transmitindo de 12 a 14 horas diárias de "incitação à violência", segundo a PMW. Em telejornais ou boletins de rádio, reportagens contavam histórias de crianças palestinas que, no caminho para a escola, eram provocadas por soldados israelenses e decidiam faltar às aulas para lutar e jogar pedras. Elas eram apresentadas com heroísmo, prontas para morrer como mártires.
O diretor da PMW, Itamar Marcos, divide a campanha antiisraelense na mídia palestina em dois tipos: propaganda ideológica e incitação à violência. Segundo ele, programas de entrevistas e debates são usados para dar um aspecto mais científico à propaganda ideológica.
Na opinião de Hijjawi, as reclamações de Israel sobre a imprensa controlada por Arafat não são completamente sem fundamentos. "Há uma diferença entre a mídia palestina e a ocidental: a nossa imprensa se baseia não só em informação mas também em opinião e sentimento", afirmou. "Mas ninguém aqui vai à TV e convoca as pessoas para sair às ruas matando gente."
Segundo Hijjawi, "nos últimos anos, sempre ficaram claras as mudanças na direção da programação dos meios de comunicação nos territórios palestinos. Do dia para a noite, observamos alterações nas músicas que tocam no rádio ou nos programas de TV".
De acordo com a PMW, organização que, apesar de se dizer independente, apresenta idéias próximas às da direita nacionalista israelense, nem mesmo as palavras cruzadas ficam de fora da propaganda ideológica da ANP.
A recente diminuição da incitação à violência pode ser um indício de que Arafat esteja preparando a população para um eventual retorno às negociações de paz com Israel, o que seria o próximo passo diplomático caso o atual cessar-fogo se consolide.

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