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São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2003

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IRÃ NA MIRA

Teerã condiciona assinatura de protocolo nuclear a acesso à tecnologia ocidental; EUA rechaçam proposta

UE, Rússia e ONU reforçam pressão sobre Irã

DA REDAÇÃO

A ONU, a União Européia e a Rússia uniram-se aos EUA na crítica ao programa nuclear iraniano e exortaram Teerã a permitir inspeções mais rigorosas. Em contrapartida, a Chancelaria iraniana anunciou ter aberto queixa contra a interferência dos EUA em seus assuntos domésticos, após Washington declarar apoio aos protestos contra o governo iraniano.
O egípcio Mohamed El Baradei, diretor da AIEA (a agência nuclear da ONU), pediu ontem a Teerã que assine um protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, do qual o país é signatário, permitindo inspeções mais minuciosas em seu programa nuclear e a coleta de amostras para a verificação de radiação.
O Irã diz que o objetivo do seu programa nuclear é pacífico, uma fonte de energia alternativa, embora seja rico em petróleo e gás.
O programa nuclear do Irã, desenvolvido com ajuda russa, foi um dos motivos que levaram os EUA a incluírem o país no "eixo do mal", com a Coréia do Norte e o Iraque pré-guerra. Washington acusa Teerã ainda de ajudar grupos terroristas e abrigar fugitivos da rede terrorista Al Qaeda, e rejeita a influência do Irã xiita sobre a maioria xiita iraquiana.
A Rússia, parceira do Irã na construção da usina de Bushehr, endossou o pedido da agência. "Esperamos que nossa opinião seja ouvida em Teerã", disse o representante russo na AIEA, Grigory Berdennikov.
Já os chanceleres dos países da União Européia, reunidos em Luxemburgo, pediram a Teerã a ratificação "urgente e incondicional" do protocolo adicional como condição para a assinatura de um tratado comercial. A UE é a maior parceira comercial do Irã.
El Baradei afirmou que o Irã não declarou parte de suas atividade nucleares e do material nuclear que possui. Segundo ele, a AIEA "está tomando as devidas ações, com as autoridades iranianas, para corrigir essas falhas".
"Daremos continuidade a nossos esforços -por meio de discussões técnicas, inspeções e análises de amostras ambientais- para entender todos os aspectos do programa nuclear iraniano, incluindo a pesquisa e o desenvolvimento da conversão de urânio", escreveu El Baradei em relatório.
Os EUA pressionam a agência para declarar que o Irã violou o tratado. Mas a AIEA, ainda que manifeste preocupação com a situação, se limitou a exortar o país a assinar o protocolo adicional.

"Montanha de gelo"
Para o representante iraniano na AIEA, Ali Akbar Salehi, "a questão teve motivação política". Teerã declarou que só assinará o protocolo se ganhar acesso à tecnologia nuclear ocidental.
Os EUA, no entanto, rechaçaram imediatamente a proposta de Teerã. "Isso não é um ponto de barganha", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher.
O aiatolá Khamenei, líder supremo do Irã, definiu ontem os EUA como "uma montanha de gelo derretendo" diante de "sérios problemas" no Afeganistão, no Iraque e na questão palestina, "apesar de sua propaganda".
Ontem, a Chancelaria iraniana anunciou uma queixa contra os EUA por interferência em seus assuntos domésticos. Boucher, que negou ter recebido reclamação formal, declarou que "os EUA estão ao lado daqueles que pedem mais direitos e liberdades no Irã".
Estuantes protestam há uma semana em Teerã contra o aiatolá Khamenei e o presidente Mohammed Khatami. Enquanto Khamenei é rechaçado por manter a linha dura do regime islâmico, Khatami, eleito sob a promessa de reformas, é acusado de "trair" seus eleitores devido à falta de avanços em seu governo.


Com agências internacionais


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