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Violações e repressão ofuscam avanços sociais
DA REDAÇÃO
A debilidade das liberdades civis e as violações aos direitos humanos ainda existentes no Irã
obscurecem certos ganhos sociais
consideráveis registrados durante
os mais de 25 anos do regime muçulmano, de acordo com especialistas consultados pela Folha.
Em 1975, quatro anos antes da
Revolução Islâmica -liderada
pelo aiatolá Ruhollah Khomeini-, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Irã era de
0,565. Em 2000, chegou a 0,723
-o que permitiu que o país deixasse o bloco dos Estados que
apresentavam um IDH baixo e se
inserisse no grupo dos países de
IDH médio, segundo a ONU. Em
2002, o índice atingiu 0,732.
"Desde o final da sangrenta
guerra contra o Iraque [1980-88],
o regime islâmico passou a gastar
mais com setores considerados
relevantes no que tange ao desenvolvimento humano, como a educação e a saúde", explicou Olivier
Roy, diretor do Centro Nacional
de Pesquisa Científica (França).
"Todavia os números não revelam toda a verdade. Terríveis disparidades sociais ainda persistem.
E, por ser um grande país exportador, o Irã depende demais do
preço internacional do petróleo.
Quando ele está baixo, os gastos
governamentais em áreas vitais,
como a saúde e a educação, são
abalados", acrescentou. Atualmente, o preço do petróleo está
muito elevado, o que favorece o
crescimento econômico do país.
Ademais, a economia iraniana
sofre de uma disfunção comum
em países fortemente dependentes de hidrocarbonetos, o chamado "mal holandês". Ele foi observado pela primeira vez na Holanda, em 1973, quando o preço do
gás natural teve uma elevação
acentuada. Esse mal retira fundos
de outras indústrias e torna o país
que dele padece cada vez mais dependente de petróleo ou de gás.
Ainda de acordo com a ONU, a
pobreza, que atingia 31% da população iraniana em 1989, afetava
apenas 18% dela em 1999, o que
constituiu "o maior avanço do
país em matéria de desenvolvimento humano na década de 90".
No entanto, como frisou a iraniana Shireen Hunter, diretora do
Programa Islã do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA), "ainda há diferenças
enormes entre as regiões" iranianas. "Nos anos 90, a pobreza afetava por volta de 11% dos moradores de Teerã e 39% das pessoas
na Província de Sistão e Baluquistão [ao lado do Paquistão]", disse.
A expansão de sua rede de serviços públicos de saúde foi outro
avanço social significativo do Irã
nos últimos 25 anos. Segundo estatísticas da ONU, 100% da população urbana já é coberta pela rede, enquanto 85% da rural tem
acesso a serviços de saúde básicos,
o que gerou um aumento da expectativa de vida -de 61,6 anos
em 1988 para 70,1 em 2002.
Além disso, de acordo com a
ONU, o analfabetismo entre os
adultos iranianos caiu de 42,9%
em 1988 para 22,9% em 2002.
Mesmo assim, o Irã permanece
sendo um país malvisto na comunidade internacional em razão
das violações aos direitos humanos cometidas a mando de suas
autoridades, da precariedade da
situação das liberdades civis e da
desigualdade entre os sexos.
Para as organizações de defesa
dos direitos humanos Anistia Internacional e Human Rights
Watch, ainda há sérias restrições à
liberdade de expressão e ao pluralismo no país, com jornalistas independentes e líderes oposicionistas sendo presos sem provas.
Ambas também criticam a falta
de procedimentos legais justos, o
uso da tortura contra presos de
consciência, a discriminação contra minorias religiosas e étnicas e
a aplicação da pena de morte.
Cabe lembrar, porém, que as
ações da oposição e de estudantes
contra o regime vistas no Irã, nos
últimos anos, são quase impossíveis em outros Estados islâmicos
e eram punidas pelo establishment político-religioso do país
antes de o clérigo Mohammad
Khatami assumir o poder.
(MSM)
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