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São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Human Rights Watch diz que caos após a tomada da capital provocou aumento de casos e pede ação da coalizão

Estupros crescem na Bagdá do pós-guerra

Karim Sahibi/France Presse
Iraquianas rezam em porta de entrada de mesquita de Bagdá


DA REDAÇÃO

O caos urbano que se seguiu à Guerra do Iraque aumentou o número de crimes contra mulheres, especialmente estupros, e as iraquianas evitam cada vez mais sair de casa.
A ONG Human Rights Watch exortou as tropas americanas no Iraque a auxiliarem as cada vez mais numerosas vítimas de estupro, cujos casos têm sido recusados por hospitais e pela polícia iraquiana.
A ONG, que divulgou ontem um relatório sobre crimes sexuais no pós-guerra, também pediu que o trabalho de reconstrução do país inclua mudanças nas leis sobre violência sexual e uma melhor preparação da polícia para atender vítimas de estupro.
"Tenho medo das gangues", disse ao diário "New York Times" Sanariya, uma iraquiana de nove anos estuprada há sete semanas, que tem pesadelos recorrentes com a violência sofrida. "Eu sinto como se eles estivessem me matando. Tenho esses pesadelos todos os dias." Sua irmã, Fatin, 28, disse que Sanariya grita durante o sono, pedindo que a deixem livre, e que tem sido espancada diariamente pela família após o estupro.
Segundo o "Times", o necrotério de Bagdá está cheio de corpos de mulheres e meninas assassinadas pelos próprios parentes, dispostos a "lavarem a honra", após serem estupradas por estranhos.
Segundo a Human Rights Watch, que entrevistou mais de 70 médicos, enfermeiras e soldados da coalizão, foram registrados 25 casos de rapto e estupro desde a queda de Bagdá, em 9 de abril.
Mas os números podem ser mais altos, já que a maioria das mulheres estupradas prefere não denunciar o crime. O problema, diz a ONG, se deve parcialmente às leis do regime deposto, que ligavam os crimes sexuais à atitude da mulher.
"Os planos para a reconstrução do Iraque começam a tomar forma, e os direitos das mulheres e meninas estão em jogo", diz o relatório. Os envolvidos na reconstrução devem reprimir "a tendência, no Iraque, de tratar mulheres e meninas de forma desigual perante a lei, o que desencoraja mulheres e meninas a relatarem a violência sexual e até as pune por serem vítimas".
Segundo a ONG, rapto e estupro são crimes graves no Iraque. Mas o código penal em vigor durante o regime do ex-ditador Saddam Hussein permitia que um homem escapasse da punição casando-se com a vítima. Além disso, os assassinatos para "limpar a honra" -quando parentes de uma vítima de estupro a matam sob a premissa de que ela manchou a honra da família- recebem penas reduzidas.
"O estigma da vergonha está ligado ao estupro há muito tempo, de forma a colocar a vítima no papel de responsável pelo crime e, frequentemente, ser leniente com os criminosos", diz a ONG.
Desde a queda do regime de Saddam, os hospitais estão lotados de vítimas de outros crimes.
"Em alguns casos, mulheres e meninas que procuraram assistência médica após sofrerem violência sexual tiveram seu pedido negado porque em alguns hospitais a equipe não considera ser sua responsabilidade tratar vítimas de violência sexual ou então considera os casos como sendo de baixa prioridade."
A ONG também encontrou policiais despreparados -por falta de conhecimento ou vontade- para orientar as vítimas sobre os exames necessários para se abrir um processo por estupro.

Com agências internacionais


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