São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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CRISE
Autoridades pedem a manifestantes que não desestabilizem governo; greve nos transportes acaba após 12 dias
Equador faz apelo por estabilidade

Reuters
Blindado portege a sede do Executivo do Equador, em Quito, de atos contrários ao governo


das agências internacionais


Autoridades do Equador fizeram ontem um apelo para que grevistas e ativistas indígenas não desestabilizem o governo do presidente Jamil Mahuad (Democracia Popular, centro).
O governo conseguiu um acordo ontem que encerrou a greve no setor de transportes. O movimento parou o país por 12 dias e ganhou a adesão de outros setores. A greve causou desabastecimento e elevação de preços em até 20%. Com o fim do movimento, voltam ao trabalho taxistas, motoristas de ônibus e caminhoneiros.
"Interessa-nos um país em paz". afirmou o presidente Mahuad, ao anunciar o fim da greve.
Ontem, aderiram aos protestos 4.000 indígenas, que marcharam em direção à capital, Quito, exigindo melhoras na educação e nos serviços públicos e mudanças no modelo econômico.
Os índios representam 40% da população. Os manifestantes foram recebidos com bombas de gás lacrimogêneo. Ontem, o governo afirmou caminhar para acordo também com os índios.
"Estou certo de que podemos chegar a um entendimento. Tenho certeza de que os índios terão em mente que há o risco de serem manipulados por facções que crêem só poder atingir seus objetivos por meio de um golpe de Estado", afirmou o chanceler Benjamin Ortiz.
O governo acusa políticos da oposição de estar incitando os protestos. O prefeito de Guayaquil e ex-presidente (1984-188), Léon Febres Cordero, do Partido Social Cristão (oposição), convocou uma marcha para terça.
Ele quer a renúncia da ministra das Finanças, a renegociação das condições de pagamento da dívida externa e a revisão das condições do processo de privatização.
O ministro Defesa do Equador, o general da reserva José Gallardo, também advertiu ontem para o risco de golpe. "Estamos pedindo às pessoas para não subestimarem os estragos que isso está causando ao país."
Para conter a crise, Mahuad cancelou o último aumento do preço dos combustíveis (de 13,1%, em julho), que desencadeou os protestos, e congelou o valor aos níveis de 30 de junho. Segundo a determinação presidencial, os preços não serão aumentados até dezembro. Ontem, o presidente afirmou que o congelamento pode ser prorrogado. Também serão renegociadas as dívidas do setor de transportes.
O presidente decretou estado de emergência por 60 dias na última quarta, reeditando medida imposta em 5 de julho e derrubada pelo Parlamento na última terça. O estado de emergência dá poderes à polícia e ao Exército de prender manifestantes e expulsá-los das ruas.
Durante os protestos, foram detidas 543 pessoas. Só em Quito, 108 pessoas foram feridas durante choques com a polícia e os militares. Ontem, o Parlamento aprovou a anistia aos presos.
Analistas estimam que a economia do país já tenha sofrido perdas da ordem de US$ 210 milhões com a paralisação.


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