São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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COMENTÁRIO
Volta do "golpe" reflete gravidade

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O fato de a expressão "golpe militar" voltar à cena é a mais recente expressão da grave crise econômica que se disseminou pela América Latina.
Não é só no Equador que essa expressão -de fundas raízes na história do subcontinente- voltou a ser usada. Na Venezuela, o próprio presidente, coronel Hugo Chávez, chegou a dizer, há uma semana, que só não dava um golpe "para não dar o gostinho" a seus opositores.
Mas, no caso da Venezuela, seria um autogolpe, no modelo que funcionou no Peru, com Alberto Fujimori.
No caso do Equador, o risco de golpe deriva de um quadro igualmente clássico na América Latina: sérias dificuldades econômicas acopladas ao fracasso de um esquema político após o outro (vale lembrar que Abdalá Bucaram, antecessor eleito de Jamil Mahuad, foi afastado poucos meses após tomar posse).
O Equador vive a crise econômica mais grave em 40 anos, com a inflação mais alta na América Latina (43% no ano passado), com contínua desvalorização do sucre, sua moeda, e com exponencial aumento do desemprego e do subemprego, que afetam praticamente dois terços de sua força de trabalho.
Com esse pano de fundo, a insatisfação social só poderia mesmo subir de tom, a ponto de um conglomerado político-sindical-indígena, a Frente Patriótica, estar convocando uma "insurreição popular e indígena".
Que chances há de ocorrer um golpe, em um contexto internacional que parece ter desterrado soluções de força, antes comuns? Difícil responder.Tudo parece depender da evolução da série recente de paralisações, à qual se juntará o professorado, na próxima semana.
Se o governo não conseguir retomar, com razoável rapidez, o controle da situação, Mahuad poderá efetivamente ser afastado ou, na hipótese mais branda, tornar-se refém dos militares.


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