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COMENTÁRIO
Volta do "golpe" reflete gravidade
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O fato de a expressão "golpe
militar" voltar à cena é a mais
recente expressão da grave crise
econômica que se disseminou
pela América Latina.
Não é só no Equador que essa
expressão -de fundas raízes na
história do subcontinente-
voltou a ser usada. Na Venezuela, o próprio presidente, coronel
Hugo Chávez, chegou a dizer,
há uma semana, que só não dava um golpe "para não dar o
gostinho" a seus opositores.
Mas, no caso da Venezuela,
seria um autogolpe, no modelo
que funcionou no Peru, com Alberto Fujimori.
No caso do Equador, o risco
de golpe deriva de um quadro
igualmente clássico na América
Latina: sérias dificuldades econômicas acopladas ao fracasso
de um esquema político após o
outro (vale lembrar que Abdalá
Bucaram, antecessor eleito de
Jamil Mahuad, foi afastado poucos meses após tomar posse).
O Equador vive a crise econômica mais grave em 40 anos,
com a inflação mais alta na
América Latina (43% no ano
passado), com contínua desvalorização do sucre, sua moeda, e
com exponencial aumento do
desemprego e do subemprego,
que afetam praticamente dois
terços de sua força de trabalho.
Com esse pano de fundo, a insatisfação social só poderia mesmo subir de tom, a ponto de um
conglomerado político-sindical-indígena, a Frente Patriótica, estar convocando uma "insurreição popular e indígena".
Que chances há de ocorrer um
golpe, em um contexto internacional que parece ter desterrado
soluções de força, antes comuns? Difícil responder.Tudo
parece depender da evolução da
série recente de paralisações, à
qual se juntará o professorado,
na próxima semana.
Se o governo não conseguir
retomar, com razoável rapidez,
o controle da situação, Mahuad
poderá efetivamente ser afastado ou, na hipótese mais branda,
tornar-se refém dos militares.
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