São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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VENEZUELA

Ao cumprimentar o venezuelano, o presidente disse esperar "responsabilidade" dele e "serenidade" da oposição

Lula pede que Chávez tenha "humildade"

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A SANTO DOMINGO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem "humildade" e "responsabilidade" do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e "serenidade" de seus opositores.
Lula -que deve se encontrar com Chávez em 15 de setembro, no Brasil- se declarou "alegre" e "satisfeito" com o processo da consulta popular que poderia revogar o mandato de Chávez. Uma delegação do PT esteve em Caracas para apoiar o venezuelano.
O Planalto, porém, se disse "neutro". Chávez sempre foi muito próximo de Lula, mas recentemente a relação esfriou.
"Acho que quem ganhou tem de ter muita humildade, e quem perdeu tem de ter muita serenidade. E falo isso de cátedra, porque vocês sabem que eu perdi três eleições [1989, 1994 e 1998] no Brasil e em nenhum momento eu perdi a noção de tempo da democracia. O importante agora é os vencedores saberem que terão muito trabalho e responsabilidade", disse, em Santo Domingo (República Dominicana).
Lula enalteceu a participação brasileira no processo e fez uma crítica indireta aos EUA, ao dizer que os problemas mundiais podem ser resolvidos pela "conversa". Disse que conversou com Chávez e agradeceu o "respeito" que ele teve pelas decisões do Grupo de Amigos da Venezuela.
Segundo Lula, que hoje participa de reunião de cúpula com chefes de Estado da América Central e do Caribe em Santo Domingo, "não há vencedores nem perdedores" na Venezuela.
"Eu acho que o povo da Venezuela ganhou. Ganhou por sua auto-afirmação, ganhou porque consolidou um processo democrático e ganhou porque conseguiu provar ao mundo que a paz e a democracia ainda são os grandes caminhos para resolver os problemas da humanidade."
Em seguida, fez outras críticas indiretas aos EUA. "Estão dadas as condições para que a gente possa vender essa mensagem ao mundo: uma boa conversa vale mais que o envio de uma tropa ou que um tiro de canhão."
Lula afirmou que a Venezuela pode servir de "exemplo" para uma maior integração "comercial, cultural e política" entre os países da América do Sul. "Acho que a Venezuela sai deste episódio mais fortalecida. Acho que ganha o povo da Venezuela com essa experiência democrática exemplar. E acho que o Grupo de Amigos [Brasil, EUA, México, Espanha, Portugal e Chile] deu uma demonstração de que, quando há vontade política, paciência e perseverança, consolidamos coisas que parecem impossíveis."
Outros chefes de Estado sul-americanos cumprimentaram Chávez. Álvaro Uribe (Colômbia) disse que a Venezuela deu ao mundo uma "bela lição" de democracia. Néstor Kirchner (Argentina) expressou sua satisfação.
Na Bolívia, o líder cocaleiro Evo Morales disse que a vitória de Chávez "é o triunfo de todo o povo latino-americano contra o modelo econômico" e afirmou: "Não temos só um comandante como Fidel Castro, temos outro comandante das forças libertárias da América Latina, Hugo Chávez".


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