São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2006

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NEGÓCIOS À PARTE

Apesar da retórica, comércio entre Venezuela e EUA sobe

SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES", EM CARACAS

"O capitalismo vai levar à destruição da humanidade", disse o presidente Hugo Chávez neste mês em discurso no Vietnã, em viagem que incluiu escalas no Irã e em Belarus. Os EUA, acrescentou, são "o demônio que representa o capitalismo".
Apesar da hostilidade, o comércio entre a Venezuela e os EUA vem aumentando. As exportações petrolíferas da Venezuela representam a parte maior desse comércio -o país é o quarto maior fornecedor dos EUA.
Movido em grande parte pelo petróleo, o comércio bilateral teve aumento de 36% em 2005, chegando a US$ 40,4 bilhões, o crescimento mais acelerado entre os 20 maiores parceiros comerciais dos EUA, de acordo com a WorldCity, uma empresa de Miami que acompanha o comércio externo dos EUA.
Mas as empresas americanas também vêm se beneficiando, já que a demanda venezuelana por produtos americanos como automóveis, equipamentos de construção e computadores vem crescendo, subindo de US$4,8 bilhões para US$6,4 bilhões no ano passado.
O crescimento recente se dá apesar dos esforços de Chávez para redirecionar o comércio da Venezuela para países que ele vê como tendo mais afinidades com o seu. Chávez fez acordos com Cuba e Bolívia. Carros chineses já podem ser vistos em showrooms de Caracas. Tratores iranianos saem de uma nova linha de montagem.
Washington, por sua vez, procura cortar as vendas por terceiros de armas americanas à Venezuela. Mas alguns dizem que os dois países estão interligados a tal ponto que dificilmente qualquer disputa poderia desfazer esses vínculos. "Os EUA é o maior parceiro comercial da Venezuela há um século", diz Robert Bottome, editor do boletim de negócios "Venecomia".

Crescimento
As exportações venezuelanas não petrolíferas para os EUA aumentaram 116% nos três primeiros meses do ano, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas. A Venezuela também tem laços estreitos com bancos de Wall Street -o Morgan Stanley e o Crédit Suisse aconselharam os governos venezuelano e argentino sobre a venda de US$ 2 bilhões em títulos.
A economia venezuelana cresceu 9,4% no primeiro trimestre deste ano, o que está levando muitas empresas americanas a aumentar seus lucros. Companhias de serviços petrolíferos, como a Halliburton, símbolo da rejeição do governo venezuelano à política externa americana, estão na linha de frente dessa interdependência. Com dez escritórios e mil funcionários na Venezuela, a Halliburton venceu uma licitação de assistência à Petrozuata, uma joint venture entre a estatal petrolífera venezuelana e a ConocoPhillips.
Ao mesmo tempo, o governo venezuelano freqüentemente se manifesta contra o poder das multinacionais. A Chevron disse que neste ano a reorganização do setor petrolífero venezuelano deve reduzir sua produção em 90 mil barris por dia.
Chávez também vem fazendo críticas a empresas americanas de softwares, como a Microsoft, e um decreto dele estabeleceu que os gabinetes governamentais comecem a utilizar alternativas como o sistema operacional Linux. Mesmo assim, a demanda pelos produtos americanos continua grande. A General Motors, a Ford e outras montadoras de veículos vêm se esforçando para satisfazer a demanda crescente; suas vendas em julho foram 28% superiores às de julho do ano passado.


Tradução de CLARA ALLAIN

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