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Paquistanês quer exportar estratégia contra insurgência
DO ENVIADO AO PAQUISTÃO
Saifullah Orekzani recosta-se em sua cadeira e pede para o
ajudante ligar o gerador, já que
a luz acabou, como ocorre sempre no Paquistão. "Se o mundo
olhar para cá, verá que temos a
solução para aplicar no Afeganistão de vez."
O "cá" a que se refere é a
agência tribal de Mohmand, elo
vital nas conexões entre insurgentes paquistaneses e afegãos
há duas décadas. Orekzani, coronel que comanda a unidade
Mohmand Rifles há um ano, leva a reportagem a campo para
tentar provar sua tese.
O Taleban infestou a pequena e populosa (500 mil habitantes) região a partir de 2007.
O Frontier Corps não pôde
conter a ameaça. Em agosto
passado, chegaram um reforço
do Exército e dois helicópteros.
"Empregamos combate tribal adequado a esse terreno
montanhoso e com vales grandes. Dominamos os pontos altos para vigiar as rotas e tomamos os vales em movimentos
de pinça", diz Orekzani.
Na etapa dois da estratégia
defendida por Orekzani: milicianos locais conhecidos como
khazardars se posicionam em
pontos estratégicos nas regiões
já pacificadas. "A ideia é ganhar
a confiança dos locais após
mostrar a força e dar-lhes poder tribal. Assim, podem nos
indicar onde estão os criminosos que escaparam."
Mas essa cultura de delação
não vai contra a Justiça? "Aqui,
como no Afeganistão, a Justiça
serve para casos mais graves."
Para Orekzani, o Estado presente na forma militar e o poder local podem estimular a atividade econômica, evitando deserções das fidelidades recém-adquiridas. Em Mohmand, diz,
o futuro está nas reservas de
mármore. Os planos para uma
Cidade do Mármore chegaram
a ser anunciados em 2008.
"Eu contei tudo isso para Richard Holbrooke", diz Orekzani, mostrando as fotos do encontro deste ano com o enviado
especial de Barack Obama à região. E ele? "Prometeu que ia
ver como ajudar."
O problema é que o Afeganistão não tem um Exército local
que possa ganhar a confiança,
ainda que temporária, dos moradores. O país, com diversas
divisões étnicas, levaria anos
para criar batalhões com raízes
locais capazes de ganhar a confiança dos chefes das tribos.
E, de todo modo, o Ocidente
quer um Exército nacional por
lá, algo que nunca existiu. "Isso
é um erro. As forças têm de ser
locais, falar com os representantes ligados ao governo localmente", diz Orekzani.
Nem tudo é tão simples, contudo. Quando falava com a Folha, na quinta passada, o coronel recebeu uma ligação do comissário político local. Ahmad
Ali Khan queria saber algo sobre distribuição de alimentos a
refugiados. No sábado, ele foi
morto pelo Taleban.
(IG)
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