|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cientistas brasileiros minimizam denúncia de dissidente iraquiano
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Essa história estava enterrada havia uns dez anos", foi a reação
padrão de cientistas brasileiros da área nuclear ao comentarem a hipótese de que o Iraque poderia fazer uma bomba atômica utilizando urânio brasileiro. Para os cientistas, o que foi vendido ao Iraque foi feito legalmente, e não serviria
para fazer uma bomba.
A hipótese foi levantada em reportagem no jornal britânico
"The Times" citando o cientista
iraquiano Khidir Hamza, que
participou do programa nuclear
do país até fugir em 1994. Segundo Hamza, o ditador Saddam
Hussein poderia fazer uma bomba "em meses" usando equipamento alemão pirateado e urânio
"contrabandeado" do Brasil.
"De fato o Brasil exportou urânio para o Iraque. Essa exportação não foi contrabando e obedeceu não só a legislação vigente, como os compromissos internacionais dos quais éramos signatários", declarou o ex-presidente da
Cnen (Comissão Nacional de
Energia Nuclear), Rex Nazareth,
hoje professor no Instituto Militar
de Engenharia, no Rio.
Se, de fato, o Iraque ainda tiver
condições de fazer uma bomba
atômica, o material utilizado poderá vir em parte daquilo que o
país de Saddam comprou nos
anos 80 -de países como Itália,
França, Rússia e também Brasil.
Seria como fazer um bolo usando
farinha comprada em vários lugares -e, no caso do Brasil, o ingrediente seria pouco mais do que o
trigo recém-colhido.
"As quantidades e a forma química são de conhecimento da
Agência Internacional de Energia
Atômica, órgão ligado às Nações
Unidas, com atribuição de inspecionar atividades nucleares nos
países-membros. A forma química do material exportado não permitia a produção de armas nucleares", afirmou Nazareth.
O Brasil vendeu ao Iraque óxido
de urânio, um composto químico
que faz parte do começo do chamado "ciclo do combustível nuclear", que vai do minério ao urânio enriquecido usado em reatores (ou, em forma mais enriquecida, em bombas atômicas). Enriquecer significa aumentar a proporção do Urânio-235 na mistura.
"É notícia requentada, fantasiosa. Era corrente o conhecimento
das exportações para o Iraque.
Era urânio natural, não enriquecido, o Brasil nem conseguia enriquecer urânio na época", diz Ildo
Sauer, que de 85 a 90 trabalhou no
programa nuclear brasileiro.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, disse
ontem em São Paulo que iria "levantar o assunto, que tem mais de
dez anos" junto ao Itamaraty.
Já o atual presidente da Cnen,
José Mauro Esteves dos Santos,
lembrou que as exportações na
época também eram legalizadas.
Os dois estiveram em São Paulo
em cerimônia que comemorava
os 46 anos do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
(Ipen), que desenvolveu junto
com a Marinha a tecnologia brasileira de enriquecimento de urânio
para uso em reatores.
Ontem foi justamente assinado
um convênio entre Ipen e Marinha para a produção de novos elementos combustíveis para o reator de pesquisa do instituto, que
produz radioisótopos para uso
em diagnósticos em medicina.
Texto Anterior: Urânio brasileiro no Iraque está sob controle, diz agência da ONU Próximo Texto: Acusados de terror são entregues aos EUA Índice
|