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Urânio brasileiro no Iraque está sob controle, diz agência da ONU
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
O Iraque não está usando urânio adquirido do Brasil no desenvolvimento de armas nucleares, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU.
O dióxido de urânio brasileiro que existe no Iraque foi adquirido
legalmente entre 1981 e 1982, num total de 24.260 kg, e foi contado,
estocado e está sob o controle da AIEA, que tem monitorado o material desde 1991.
A hipótese de que o Iraque esteja produzindo armas com urânio
brasileiro foi sugerida pelo cientista Khidir Hamza, que participou do programa nuclear iraquiano e se exilou depois nos Estados Unidos.
A AIEA desqualificou as alegações do cientista. A seguir, trechos
da entrevista do porta-voz da
AIEA, Mark Gwozdecky.
Folha - Há alguma procedência
nas declarações de Khidir Hamza
de que o Iraque está construindo
uma bomba com urânio contrabandeado do Brasil?
Mark Gwozdecky - Nós acreditamos que as declarações do sr.
Hamza não são de alguém que tenha autoridade no assunto.
Folha - Por quê?
Gwozdecky - Porque o sr. Hamza
teve apenas um papel limitado no
programa nuclear iraquiano, que
durou até 1987. Em 1994, ele deixou o Iraque. Nossos inspetores
estiveram mais recentemente no
país e têm um conhecimento mais
íntimo da situação. Nossas informações são mais atualizadas do
que as dele. O Iraque importou
urânio legalmente de vários países, inclusive do Brasil, de onde
vieram 24.260 kg entre 1981 e
1982. Estivemos no Iraque entre
1991 e 1998. O uso do urânio brasileiro até 1991 foi seriamente analisado por nossa agência.
Folha - O Iraque está autorizado a
manter esse urânio brasileiro e de
outros países?
Gwozdecky - Sim, segundo as resoluções do Conselho de Segurança. Nós fomos instruídos para
ir até lá e neutralizar o programa
nuclear. Entre 1991 e 1998, nós
confiscamos o urânio e o plutônio
enriquecidos, destruímos lugares
e equipamentos. Mas o Conselho
de Segurança não nos pediu que o
urânio natural e pouco enriquecido fosse confiscado, porque, desde que ele esteja sob controle dos
inspetores, não é considerado um
problema. É o caso do urânio do
Brasil.
Folha - Por que não é um problema?
Gwozdecky - Porque o Iraque levaria muito tempo para transformar esse material em urânio enriquecido apropriado para o uso
em armas.
Folha - Em que condições o Iraque
comprou o urânio do Brasil?
Gwozdecky - Foi uma compra legal, porque naquela época ninguém suspeitava que o Iraque estivesse desenvolvendo um programa nuclear.
Folha - O sr. acha que o Iraque está construindo uma arma atômica?
Gwozdecky - Nós somos uma
agência técnica. Não damos opiniões, não especulamos. Nós levamos nossas conclusões ao Conselho de Segurança baseados em fatos e fortes evidências. Até que tenhamos uma inspeção aprofundada, o que posso dizer é que nós
não sabemos.
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