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Dar Yasin/Associated Press
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Em discurso na terça, papa usou o termos 'jihad' e 'guerra santa' ao dizer que a violência é 'incompatível com a natureza de Deus' |
Bento 16 "lamenta" ter ofendido o islã
Texto do Vaticano diz que palavras do papa foram mal compreendidas, mas muçulmanos exigem "desculpa pessoal"
Em discurso na terça-feira, pontífice usou os termos "jihad" e "guerra santa" ao afirmar que a violência é incompatível com Deus
DA REDAÇÃO
Em um comunicado emitido
ontem, o Vaticano diz que o papa lamenta ter ofendido os muçulmanos em um discurso proferido na terça-feira passada,
em sua Alemanha natal, e que
provocou protestos em todo o
mundo islâmico.
"O papa lamenta que algumas passagens de sua fala possam ter soado ofensivas às sensibilidades dos fiéis muçulmanos", diz o comunicado do secretário de Estado do Vaticano,
cardeal Tarcisio Bertone.
No discurso, o papa se referiu
à crítica feita ao profeta Maomé, no século 14, pelo imperador Manuel 2º, o Paleólogo
(1391-1425), que afirmou que
todas as coisas que Maomé
trouxe foram más, "como sua
ordem para espalhar pelo medo
da espada a fé que pregava".
Usando os termos "jihad" e
"guerra santa", o papa afirmou
que a violência era "incompatível com a natureza de Deus".
O documento diz ainda que
Bento 16 confirmou "seu respeito e estima por aqueles que
professam a fé islâmica" e espera que suas palavras sejam entendidas "em seu verdadeiro
sentido". Diz ainda que o sumo
pontífice "não teve intenção
nenhuma" de apresentar as
opiniões de Manuel 2º sobre o
islã como sendo suas.
Em reação, o egípcio Mohammed Abib, líder da Irmandade Muçulmana, afirmou que
isso não era suficiente e queria
uma "desculpa pessoal". "Sentimos que ele cometeu um grave erro contra nós e que esse erro somente será removido por
meio de uma desculpa pessoal."
Mas a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e outros
políticos do país defenderam os
comentários do papa. "Foram
um convite ao diálogo entre as
religiões", disse.
O "New York Times" afirmou
em editorial que o papa deve
"uma profunda e persuasiva"
desculpa pelas citações usadas
em seu discurso. "O mundo ouve com muita atenção as palavras de qualquer papa. E é trágico e perigoso quando provocam dor, seja de forma deliberada ou displicente."
Diplomatas do Vaticano afirmam que Bento 16 pode ter embaralhado seu papel de papa,
que exerce desde abril de 2005,
com suas antigas atribuições de
teólogo e líder da Congregação
pela Doutrina da Fé, ainda como cardeal Joseph Ratzinger.
De volta às Cruzadas
Furiosos, líderes muçulmanos devolveram ao Ocidente
cristão as alegações de uso de
violência. "Como o papa pode
sugerir que os muçulmanos são
os criadores do terrorismo no
mundo, enquanto são os seguidores da cristandade que agrediram os países do mundo islâmico?", perguntou o clérigo
saudita Salman al-Odeh.
"Quem atacou o Afeganistão e
quem invadiu o Iraque?"
Na Líbia, a Instância Geral de
Assuntos Religiosos disse que o
"insulto nos leva de volta à era
das Cruzadas contra os muçulmanos, lideradas pelos políticos e religiosos ocidentais".
A reação contra as palavras
do papa colocou em dúvida
uma viagem que ele fará à Turquia em novembro. O premiê
turco, Tayyip Erdogan, afirmou
ontem que Bento 16 deveria
"retirar" os comentários que
fez sobre o islã. Já o jornal turco
"Vatan" cita o líder do governista Partido da Justiça e do
Desenvolvimento, que afirmou
que o papa entrará na história
na mesma categoria de líderes
como Hitler e Mussolini.
O Marrocos convocou de volta seu embaixador no Vaticano
em protesto. O Egito chamou o
representante da Santa Sé no
país para explicar as declarações do papa.
Na Índia, no Estado de maioria muçulmana da Caxemira, a
polícia prendeu cerca de 20
manifestantes no segundo dia
de protestos contra as declarações de Bento 16. Na Cisjordânia, homens armados atacaram
quatro igrejas em Nablus e uma
na faixa de Gaza. Não houve feridos em nenhum dos casos.
Em Basra, no Iraque, depois
que uma igreja foi atacada, o governo pediu aos muçulmanos
que se sentiram ofendidos que
não se voltem contra a pequena
minoria cristã.
Com agências internacionais
O papa lamenta
que algumas passagens
de sua fala possam ter
soado ofensivas às
sensibilidades dos fiéis
muçulmanos
VATICANO
em comunicado oficial
Sentimos que ele
cometeu um grave erro
contra nós e que esse
erro somente será
removido por meio de
uma desculpa pessoal
MOHAMMED ABIB líder da Irmandade Muçulmana
[Os comentários do
papa] foram um
convite ao diálogo entre
as religiões
ANGELA MERKEL
chanceler (premiê) da Alemanha
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