São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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FBI e CIA racham sobre métodos de interrogar

Polícia federal americana condena atitudes da agência de inteligência

Instituição diz que não faz "coação" e é a mais recente baixa no apoio às medidas definidas por Bush como "duras, mas necessárias"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Na nada sutil e cada vez mais vincada linha que divide os "falcões" (aqueles que priorizam o uso da força) e as "pombas" (os que são pelo diálogo) da Casa Branca, o FBI, a polícia federal americana, acaba de escolher seu lado. O motivo são os duros métodos de interrogatório da CIA, a agência de inteligência, e do Pentágono, que foram questionados pela Suprema Corte, sofrem críticas da comunidade internacional e da maioria da população dos EUA -mas têm sido defendidos pelo presidente George W. Bush.
"Não há coação, pressão, nós seguimos as diretrizes do Departamento da Justiça", disse Thomas Fuentes, diretor do departamento de operações internacionais do FBI (leia entrevista nesta página), na última quinta-feira, na sede da força, em Washington. A entidade é subordinada àquele órgão, o equivalente norte-americano ao Ministério da Justiça brasileiro; já a agência de inteligência responde ao presidente.
O FBI é a baixa mais recente e condecorada na luta pelo que a oposição democrata está chamando de "o direito de torturar". Tal luta levou Bush ao Capitólio, a sede do poder legislativo norte-americano, na quinta-feira, para defender a proposta de lei que mandou há duas semanas e que pede a criação de tribunais militares "especiais" na prisão da Base Naval de Guantánamo, em Cuba, que reúne a maior parte dos suspeitos de terrorismo presos pelos EUA ao redor do mundo.

"Base moral"
No mesmo dia, o ex-secretário de Estado do governo Bush, Colin Powell, mandou carta ao senador republicano John McCain dizendo que "o mundo está começando a duvidar da base moral de nossa luta contra o terrorismo". Powell é o mesmo que, semanas antes da invasão do Iraque, foi à ONU mostrar mapas e fotos de satélites do que chamou ba ocasião de provas da existência de armas de destruição em massa em poder do então ditador Saddam Hussein, episódio que depois chamaria de "mancha" em sua biografia. Na sexta, Bush classificou a carta de "inaceitável".
Pensamento parecido com o de Powell parecem ter os agentes do FBI com quem a Folha conversou. Apesar de a polícia federal ser uma força essencialmente voltada a zelar pelo cumprimento da lei no território norte-americano, é cada vez maior o papel da entidade no cenário mundial pós-11 de Setembro. A divisão antiterrorismo, por exemplo, teve seu efetivo aumentado quatro vezes desde então, diz Jennifer Love, diretora do programa.
Não é incomum que um agente do FBI esteja presente em sessões de interrogatório de suspeitos no exterior, desde que sua presença seja solicitada e desde que aconteçam em algum país dos mais de 50 em que a força mantém representantes, Brasil incluído. As sessões, porém, são conduzidas pela polícia local ou eventualmente, a depender do país e se o caso envolver suspeita de terrorismo, pela CIA. É do testemunho dos agentes do FBI dos métodos utilizados pela CIA que começou a nascer o racha entre os dois órgãos.

Seguro legal
Segundo discurso recente do próprio Bush, o presidente não pode descrever detalhes da técnica que é utilizada. "Eu acho que vocês entendem o motivo", afirmou o republicano. "Se eu o fizesse, isso ajudaria os terroristas a aprender como resistir ao questionamento e a nos distanciar de informações de que necessitamos para prevenir novos ataques ao país." Os métodos são "duros, mas seguros, legais e necessários", afirmou, para concluir: "Os Estados Unidos não torturam".
Seja como for, nos últimos dias, aumentou o número de funcionários da CIA que compraram um pacote do governo que oferece planos de seguro legal para o caso cada vez mais provável de serem levados às cortes, sob acusação de tortura, violação de direitos humanos e mesmo falha ao lidar com informação relacionada aos ataques de 11 de setembro de 2001, segundo o "Washington Post". Os agentes, diz o jornal, temem que o Departamento da Justiça não os defenda.

Queremos ter a credibilidade de que o que fazemos, principalmente fora dos EUA, seja absolutamente transparente


THOMAS FUENTES diretor do FBI



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