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FBI e CIA racham sobre métodos de interrogar
Polícia federal americana condena
atitudes da agência de inteligência
Instituição diz que não faz
"coação" e é a mais recente
baixa no apoio às medidas
definidas por Bush como
"duras, mas necessárias"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na nada sutil e cada vez mais
vincada linha que divide os "falcões" (aqueles que priorizam o
uso da força) e as "pombas" (os
que são pelo diálogo) da Casa
Branca, o FBI, a polícia federal
americana, acaba de escolher
seu lado. O motivo são os duros
métodos de interrogatório da
CIA, a agência de inteligência, e
do Pentágono, que foram questionados pela Suprema Corte,
sofrem críticas da comunidade
internacional e da maioria da
população dos EUA -mas têm
sido defendidos pelo presidente George W. Bush.
"Não há coação, pressão, nós
seguimos as diretrizes do Departamento da Justiça", disse
Thomas Fuentes, diretor do
departamento de operações internacionais do FBI (leia entrevista nesta página), na última
quinta-feira, na sede da força,
em Washington. A entidade é
subordinada àquele órgão, o
equivalente norte-americano
ao Ministério da Justiça brasileiro; já a agência de inteligência responde ao presidente.
O FBI é a baixa mais recente
e condecorada na luta pelo que
a oposição democrata está chamando de "o direito de torturar". Tal luta levou Bush ao Capitólio, a sede do poder legislativo norte-americano, na quinta-feira, para defender a proposta de lei que mandou há
duas semanas e que pede a criação de tribunais militares "especiais" na prisão da Base Naval de Guantánamo, em Cuba,
que reúne a maior parte dos
suspeitos de terrorismo presos
pelos EUA ao redor do mundo.
"Base moral"
No mesmo dia, o ex-secretário de Estado do governo Bush,
Colin Powell, mandou carta ao
senador republicano John
McCain dizendo que "o mundo
está começando a duvidar da
base moral de nossa luta contra
o terrorismo". Powell é o mesmo que, semanas antes da invasão do Iraque, foi à ONU mostrar mapas e fotos de satélites
do que chamou ba ocasião de
provas da existência de armas
de destruição em massa em poder do então ditador Saddam
Hussein, episódio que depois
chamaria de "mancha" em sua
biografia. Na sexta, Bush classificou a carta de "inaceitável".
Pensamento parecido com o
de Powell parecem ter os agentes do FBI com quem a Folha
conversou. Apesar de a polícia
federal ser uma força essencialmente voltada a zelar pelo
cumprimento da lei no território norte-americano, é cada vez
maior o papel da entidade no
cenário mundial pós-11 de Setembro. A divisão antiterrorismo, por exemplo, teve seu efetivo aumentado quatro vezes
desde então, diz Jennifer Love,
diretora do programa.
Não é incomum que um
agente do FBI esteja presente
em sessões de interrogatório
de suspeitos no exterior, desde
que sua presença seja solicitada e desde que aconteçam em
algum país dos mais de 50 em
que a força mantém representantes, Brasil incluído. As sessões, porém, são conduzidas
pela polícia local ou eventualmente, a depender do país e se
o caso envolver suspeita de terrorismo, pela CIA. É do testemunho dos agentes do FBI dos
métodos utilizados pela CIA
que começou a nascer o racha
entre os dois órgãos.
Seguro legal
Segundo discurso recente do
próprio Bush, o presidente não
pode descrever detalhes da técnica que é utilizada. "Eu acho
que vocês entendem o motivo",
afirmou o republicano. "Se eu o
fizesse, isso ajudaria os terroristas a aprender como resistir
ao questionamento e a nos distanciar de informações de que
necessitamos para prevenir novos ataques ao país." Os métodos são "duros, mas seguros, legais e necessários", afirmou,
para concluir: "Os Estados Unidos não torturam".
Seja como for, nos últimos
dias, aumentou o número de
funcionários da CIA que compraram um pacote do governo
que oferece planos de seguro
legal para o caso cada vez mais
provável de serem levados às
cortes, sob acusação de tortura,
violação de direitos humanos e
mesmo falha ao lidar com informação relacionada aos ataques de 11 de setembro de 2001,
segundo o "Washington Post".
Os agentes, diz o jornal, temem
que o Departamento da Justiça
não os defenda.
Queremos ter
a credibilidade
de que o que fazemos,
principalmente fora
dos EUA, seja
absolutamente
transparente
THOMAS FUENTES
diretor do FBI
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