São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Perda com furacão frustra promessa de Raúl

Estragos deixados pelo Gustav e pelo Ike em Cuba põem em risco melhora material cuja expectativa ajuda a amparar atual governo

Governo cubano avalia prejuízos em pelo menos US$ 5 bilhões e pede aos EUA suspensão temporária de embargo durante crise

DA REDAÇÃO

Pouco mais de seis meses depois de Raúl Castro assumir oficialmente o governo de Cuba -substituindo seu irmão Fidel, afastado por problemas de saúde-, dois furacões deixaram em ruínas suas promessas de melhorar "a vida material e espiritual" do povo.
Em duas semanas, os furacões Gustav e Ike causaram destruição catastrófica nas duas pontas da ilha, e varreram grande parte do território que as separa.
Já estavam começando a surgir desgastes na economia cubana, dependente de importações, antes das tempestades.
O governo desacelerou o investimento e suspendeu o pagamento de suas dívidas com alguns países e fornecedores nos últimos meses, solicitando que elas fossem reestruturadas ante a alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos e de um declínio significativo nos preços do níquel, principal exportação cubana.
A ilha, que vive sob o regime comunista e um embargo econômico imposto pelos Estados Unidos em 1962, não é membro do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial nem de nenhuma outra instituição multilateral de empréstimos da qual os EUA participem.
"A melhora material era planejada como fonte essencial de legitimidade para o governo de Raúl, e, caso ele não se prove capaz de cumprir essa promessa, por qualquer que seja a razão, isso representaria problema muito mais sério para o seu regime do que seria caso Fidel ainda estivesse no poder", disse Bert Hoffman, especialista em assuntos latino-americanos do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais.

Perdas de US$ 5 bilhões
O Partido Comunista Cubano permitiu pela primeira vez que organizações não-governamentais de assistência ocidentais e agências de emergência da ONU trabalhassem no país.
Cuba está recebendo assistência de dezenas de países, e as estimativas quanto ao valor dos danos causados pelas tempestades foram avaliadas por Havana ontem em US$ 5 bilhões, o equivalente a 10% do Produto Interno Bruto da ilha.
Os EUA continuam resolutos quanto ao amargo confronto que opõe os dois países há quase 50 anos, e Washington exige o direito de inspecionar os danos. Cuba rebate alegando que deseja apenas comprar suprimentos de emergência norte-americanos e receber crédito de fontes privadas para adquirir alimentos, e que as restrições às viagens de cidadãos norte-americanos de origem cubana ao país e às remessas de dinheiro aos seus parentes na ilha sejam suspensas.
Raúl Castro está mantendo a discrição desde o início da crise, e aparentemente vem comandando o país pelo telefone. Ele enviou Ramón Machado Ventura, seu segundo no comando, para avaliar os danos e estimular os esforços de recuperação.
"Precisamos economizar e usar tudo que pudermos recuperar na reconstrução, incluindo os pregos", disse Machado.
Segundo o governo cubano, os furacões danificaram cerca de 500 mil casas e muitos milhares de outras edificações, bem como as empresas de infra-estrutura e redes de telecomunicações e destruíram boa parte das safras.

Com "Financial Times" e agências internacionais



Texto Anterior: Washington põe Bolívia em lista negra das drogas
Próximo Texto: Análise: Pressão cresce para trégua no embargo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.