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HORA DA DECISÃO
Candidato da oposição fala pouco e promete mudanças suaves ao eleitorado argentino
Silêncio de De la Rúa atrai eleitores
de Buenos Aires
Para tentar angariar votos de
peronistas que se desiludiram
com o atual governo e os indecisos, Eduardo Duhalde, candidato
do Partido Justicialista, decidiu se
afastar em definitivo do presidente Carlos Menem, na reta final da
corrida presidencial.
Na última sexta-feira, Duhalde
disparou pesadas críticas contra
Menem, tentando, mais uma vez,
firmar a imagem de ruptura com
o governo de situação.
Durante caravana realizada na
Província de Córdoba, Duhalde
acusou Menem de estar mais
preocupado com a volta ao poder
em 2003 do que com o futuro do
partido nessa eleição. Disse ainda
que Menem se furtou a apoiá-lo
com atitudes firmes e que seu governo se equivocou na condução
da política econômica .
Duhalde quer convencer os eleitores de que ele representa mudança. Até agora, nessas eleições,
entretanto, esse lugar no imaginário popular pertence a Fernando
de la Rúa, candidato da Aliança
(oposição).
Devido a sua participação no
atual governo, a postura de campanha é pouco crível. Duhalde foi
vice-presidente de Menem, no
primeiro mandato, entre 1989 e
1991. Depois assumiu o governo
da Província de Buenos Aires, a
mais importante do país.
Segundo Hiran Pessoa de Mello, assessor de campanha da
Aliança, o erro de posicionamento de Duhalde foi a principal ajuda que teve a candidatura de De la
Rúa.
"De la Rúa se colocou no centro-esquerda, mas com um verniz
de direita", diz Roberto Bacman,
diretor do instituto de pesquisas
Ceop, ligado ao jornal "Clarín".
Segundo ele, esse posicionamento serviu como uma luva, porque
o eleitorado argentino quer uma
mudança suave, sem grandes
rupturas. Quer mais emprego,
mas sem a volta de hiperinflação.
"De la Rúa transmite muita tranquilidade aos eleitores", diz Marita Carballo, do instituto Gallup.
O estilo calado de De la Rúa
também lhe valeu muitos pontos
nas pesquisas eleitorais, diz Bacman. "O argentino está muito
descrente, pois já acreditou nas
promessas de 83, 89 e 95. Por isso
a estratégia de De la Rúa foi bem-sucedida. Ele fala pouco, promete
pouco."
Duhalde, que tinha boas chances de ter conquistado para si a
imagem de um governante capaz
de manter a estabilidade, não
acertou a fórmula, dizem os analistas. Um dos principais equívocos dessa proposta aconteceu
ainda no primeiro semestre do
ano, quando o candidato chegou
a falar em pedir a renegociação da
dívida externa argentina. A proposta se mostrou totalmente impopular.
Com um discurso que provocou insegurança sobre a manutenção da estabilidade econômica
e sem conseguir convencer ninguém de que ele era uma força de
transformação, a campanha de
Duhalde caiu no vácuo.
"Duhalde nunca encontrou o
discurso adequado para convencer o eleitorado de que era uma
opção de mudança. A sua campanha publicitária e seus atos públicos também não funcionaram",
diz Bacman.
Os analistas políticos argentinos não poupam críticas à escolha do publicitário brasileiro Duda Mendonça para tentar reverter
a trajetória descendente da popularidade de Duhalde. "É preciso
conhecer o país para fazer publicidade política, é como fazer a
própria política", diz Bacman.
Dentro da Aliança de De la Rúa,
entretanto, há quem avalie que
Duda foi chamado tarde demais.
"Ele pegou um candidato e uma
circunstância já desgastados", diz
Alicia Castro, deputada da Aliança.
(VA e AS)
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