São Paulo, Domingo, 17 de Outubro de 1999
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HORA DA DECISÃO
Candidato da oposição fala pouco e promete mudanças suaves ao eleitorado argentino
Silêncio de De la Rúa atrai eleitores

de Buenos Aires

Para tentar angariar votos de peronistas que se desiludiram com o atual governo e os indecisos, Eduardo Duhalde, candidato do Partido Justicialista, decidiu se afastar em definitivo do presidente Carlos Menem, na reta final da corrida presidencial.
Na última sexta-feira, Duhalde disparou pesadas críticas contra Menem, tentando, mais uma vez, firmar a imagem de ruptura com o governo de situação.
Durante caravana realizada na Província de Córdoba, Duhalde acusou Menem de estar mais preocupado com a volta ao poder em 2003 do que com o futuro do partido nessa eleição. Disse ainda que Menem se furtou a apoiá-lo com atitudes firmes e que seu governo se equivocou na condução da política econômica .
Duhalde quer convencer os eleitores de que ele representa mudança. Até agora, nessas eleições, entretanto, esse lugar no imaginário popular pertence a Fernando de la Rúa, candidato da Aliança (oposição).
Devido a sua participação no atual governo, a postura de campanha é pouco crível. Duhalde foi vice-presidente de Menem, no primeiro mandato, entre 1989 e 1991. Depois assumiu o governo da Província de Buenos Aires, a mais importante do país.
Segundo Hiran Pessoa de Mello, assessor de campanha da Aliança, o erro de posicionamento de Duhalde foi a principal ajuda que teve a candidatura de De la Rúa.
"De la Rúa se colocou no centro-esquerda, mas com um verniz de direita", diz Roberto Bacman, diretor do instituto de pesquisas Ceop, ligado ao jornal "Clarín". Segundo ele, esse posicionamento serviu como uma luva, porque o eleitorado argentino quer uma mudança suave, sem grandes rupturas. Quer mais emprego, mas sem a volta de hiperinflação. "De la Rúa transmite muita tranquilidade aos eleitores", diz Marita Carballo, do instituto Gallup.
O estilo calado de De la Rúa também lhe valeu muitos pontos nas pesquisas eleitorais, diz Bacman. "O argentino está muito descrente, pois já acreditou nas promessas de 83, 89 e 95. Por isso a estratégia de De la Rúa foi bem-sucedida. Ele fala pouco, promete pouco."
Duhalde, que tinha boas chances de ter conquistado para si a imagem de um governante capaz de manter a estabilidade, não acertou a fórmula, dizem os analistas. Um dos principais equívocos dessa proposta aconteceu ainda no primeiro semestre do ano, quando o candidato chegou a falar em pedir a renegociação da dívida externa argentina. A proposta se mostrou totalmente impopular.
Com um discurso que provocou insegurança sobre a manutenção da estabilidade econômica e sem conseguir convencer ninguém de que ele era uma força de transformação, a campanha de Duhalde caiu no vácuo.
"Duhalde nunca encontrou o discurso adequado para convencer o eleitorado de que era uma opção de mudança. A sua campanha publicitária e seus atos públicos também não funcionaram", diz Bacman.
Os analistas políticos argentinos não poupam críticas à escolha do publicitário brasileiro Duda Mendonça para tentar reverter a trajetória descendente da popularidade de Duhalde. "É preciso conhecer o país para fazer publicidade política, é como fazer a própria política", diz Bacman.
Dentro da Aliança de De la Rúa, entretanto, há quem avalie que Duda foi chamado tarde demais. "Ele pegou um candidato e uma circunstância já desgastados", diz Alicia Castro, deputada da Aliança. (VA e AS)


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