São Paulo, Domingo, 17 de Outubro de 1999
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O OPOSICIONISTA
Argentina: a aliança do século 21

FERNANDO DE LA RÚA
especial para a Folha

Nos últimos anos fomos testemunhas da forma vertiginosa com que acontecem as mudanças no mundo. A globalização, com suas vantagens e desvantagens, influi na vida de todos os países.
O grande desafio dos dirigentes do mundo é conseguir com que essas mudanças beneficiem a maior quantidade de pessoas possível. Na Argentina, as mudanças que as pessoas exigem são basicamente ter um maior equilíbrio e justiça social. Essa foi uma das principais razões da criação da Aliança que lidero em meu país.
A Aliança, integrada pela União Cívica Radical e pela Frepaso (Frente País Solidário), não é uma união temporária contra uma pessoa determinada: é um acordo programático e político criado para enfrentar um modelo excludente que concentrou em pouquíssimos os benefícios do trabalho e do esforço de todo o povo.
Durante dez anos, o modelo imposto na Argentina produziu profundos desequilíbrios sociais. Um governo não pode permanecer indiferente quando há pessoas que sofrem. Para que isso não ocorra, o Estado deve fortalecer as políticas sociais porque sem elas é impossível crescer com equidade.
O desenvolvimento social significa criar oportunidades de trabalho, educação, saúde e lutar contra a pobreza. Isso é a Aliança.
No mundo global do século 21, as crises ou as bonanças que ocorrem em um lugar do mundo repercutem em outro distante. A globalização não deve nos afetar apenas quando grandes economias entram em crise, mas também para compartilhar os benefícios do progresso.
As más experiências internacionais afetaram nosso país, mas essa é apenas uma das causas. A fragilidade de uma economia demasiado dependente de capitais voláteis produziu o fato de que cada percalço internacional nos afetará mais do que seria recomendável.
A competitividade de um país é obtida com o bom funcionamento de suas instituições. Sermos austeros e eficientes no manejo de nossa economia permitirá a nossa inserção no mundo. A cena internacional nos indica que não se pode viver isolado do resto dos países, mas podemos ser dignos na defesa de nossos interesses.
Para combater a crise com eficiência, devemos ser sérios e responsáveis. Em matéria econômica não há soluções que caem dos céus. Um país que honre seus compromissos e impulsione o crescimento da região ganhará o respeito de toda a comunidade internacional. Apenas a capacidade e a experiência são a garantia para colocar o país a caminho do crescimento.
O compromisso e o desafio central da Aliança é a mudança. É possível governar a Argentina de maneira decente e eficaz. Uma década marcada pela corrupção mais escandalosa e pela impunidade vai pertencer ao passado, e os responsáveis irão para a cadeia.
Durante dez anos nos disseram que o Estado não poderia fazer nada ante as injustiças e os desequilíbrios produzidos pelo mercado. Mas é falsa a idéia de um mercado auto-regulável. O Estado deve estar a serviço das pessoas e daqueles que querem trabalhar e produzir. A igualdade de oportunidades, de acesso à educação e à saúde, e a oportunidade de viver em um país seguro são a essência de uma força política formada pelo clamor popular.
A Aliança representa um novo caminho na Argentina. É a única alternativa a um modelo que aqui foi tomado como algo único, irremovível, insubstituível.
Por isso, propomos compatibilizar o crescimento econômico com o desenvolvimento social, que significa ocupar-se da educação, da saúde, da luta contra a pobreza, de criar trabalho e atender à seguridade social.
Definitivamente, gerar o crescimento com equidade, sem se esquecer das pessoas. Impulsionar uma maior eficiência na ação do Estado, para que se possa resolver os problemas da exclusão, e promover o crescimento econômico por meio da confiança e da previsibilidade.
A Argentina do próximo século será um protagonista, e não um simples espectador das mudanças que ocorrerem no mundo. Grandes desafios nos esperam, mas com capacidade, decência e responsabilidade será mais fácil.


Fernando de la Rúa, prefeito de Buenos Aires, é candidato à Presidência da Argentina pela coalizão de oposição Aliança. (IPS)


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