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MULTIMÍDIA
Libération
de Paris
Guerra do
Golfo volta em
filme inovador
PATRICK SABATIER
em Washington
No filme "Three Kings" (Três
Reis Magos), o major Archie Gates, representado pelo ator George Clooney, e seus três soldados
rasos caem num poço, como Alice em "Alice no País das Maravilhas", com a diferença de que o
poço fica no deserto.
Lá dentro, descobrem um mundo desconcertante e assustador,
onde nada é como deveria ser. O
bunker/labirinto subterrâneo
lembra uma caverna de Ali Babá.
Televisores Sony, relógios Rolex,
telefones celulares, bolsas Vuitton
e frotas inteiras de Mercedes e Cadillacs são guardados por soldados tão amedrontados pela chegada inesperada dos americanos
quanto pelo "monstro" que os comanda -Saddam Hussein.
O major Gates e seus homens
percebem que passaram para o
outro lado do espelho das telas de
televisão nas quais acabam de
vencer a Guerra do Golfo (91).
Eles já "libertaram o Kuait".
Agora, resolvem "libertar" o ouro
pilhado por Saddam no Kuait.
Mas, na hora da desapropriação,
lançam uma guerra por conta
própria, aproveitando o fato de os
iraquianos estarem ocupados
massacrando os civis xiitas que se
revoltaram contra Saddam no sul.
"Three Kings", do diretor David
Russell, é uma das maiores produções de Hollywood sobre a
Guerra do Golfo. Em função da
crítica ousada que expressa, dificilmente receberá alguma indicação ao Oscar. Seu sucesso junto ao
público americano tem sido apenas relativo. Mas a crítica o recebeu com elogios quase unânimes.
Para o crítico do "The Washington Post", essa farsa extremamente negra, ao mesmo tempo surrealista e hiper-realista (na qual
vemos em close e câmera lenta os
efeitos de uma bala dilacerando as
entranhas de um ser humano, numa sequência filmada com um
cadáver real), "reinventa o gênero
do filme de guerra segundo princípios pós-modernos".
A revista "Newsweek" viu "um
filme de ação surrealista, altamente contundente e engraçado".
Mais notável é o filme também ter
sido elogiado pelo público americano de origem árabe.
Hala Maksoub, do Comitê Árabe-americano contra a Discriminação, explica: "Não vimos nenhum dos estereótipos" antiárabes tradicionais em Hollywood.
Isso porque os soldados americanos logo descobrem que a guerra não é tão limpa quanto na TV e
que o Iraque é bem mais complexo do que diz o Pentágono.
O diretor Russell diz que seu objetivo foi "desestabilizar" o espectador e, ao mesmo tempo, lhe oferecer um filme de aventura clássico. Mas a Guerra do Golfo, marcada pelo uso de alta tecnologia e
pela desigualdade marcante entre
os dois lados, é um terreno ainda
mais fértil para o gênero, na medida em que foi travada num
mundo globalizado, no qual os
soldados iraquianos eram fãs de
Michael Jackson e assistiam à
CNN, enquanto os soldados americanos no meio do deserto usavam celulares para conversar com
suas mulheres em Chicago.
Tradução de Clara Allain
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