São Paulo, quarta-feira, 17 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIPLOMACIA

EUA e Paquistão concordam com inclusão de ala moderada em futuro governo afegão

EUA tentam incluir Taleban moderado

DO "THE NEW YORK TIMES"

Durante conversas secretas no Paquistão, um líder do Taleban pediu que os americanos suspendam os bombardeios para que a ala moderada da milícia islâmica possa convencer o mulá Mohamad Omar a entregar Osama bin Laden. Os EUA recusaram a proposta, mas concordaram com uma sucessão no Afeganistão que inclua os moderados do Taleban.
As conversações entre o mulá Abdul Wakil Muttawakil, chanceler do Taleban, e autoridades paquistanesas foram mantidas enquanto Colin Powell chegava a Islamabad, anteontem. Foi o secretário de Estado quem anunciou, ontem, que a Casa Branca concordava com um futuro governo afegão multiétnico e pluripartidário.
A presença de Muttawakil no Paquistão, aparentemente não autorizada por Omar, o líder supremo do Taleban, sugere uma cisão na cúpula do governo e um fortalecimento dos arranjos para a transição no Afeganistão.
O relato dos contatos secretos circulou após rumores de que Muttawakil desertara.
Autoridades do Paquistão disseram que a presença do mulá no país e seu pedido por uma pausa nos ataques refletiam o desenvolvimento de profundas dissensões.
Nos contatos em Islamabad, o enviado do Taleban sugeriu que os moderados poderiam ser capazes de mudar a política da milícia se tivessem um período de calma.
Após as discussões, porém, não estava claro se os moderados pretendem enfrentar Omar abertamente ou querem tornar a situação mais confusa, conseguindo a interrupção da ofensiva sem oferecer nenhum progresso quanto ao futuro de Bin Laden.
Outros relatos apontam que a iniciativa de Muttawakil se estendeu aos países do golfo Pérsico. Uma agência de notícias de Dubai afirmou que o mulá havia "mostrado interesse em assegurar o apoio dos Estados muçulmanos" na região numa negociação com os EUA em nome do Taleban.
Há relatos ainda de combates entre o Taleban e integrantes da rede de Bin Laden, a Al Qaeda.
O embaixador da milícia no Paquistão, Abdul Salam Zaeef, negou, contudo, divisões no Taleban. "Não há mudança", disse.
A chegada de Powell completou uma extraordinária convergência de quase todos os grandes atores da atual crise, espelhando a necessidade de definir diretrizes políticas e diplomáticas pós-ataques.
Powell e Musharraf afirmaram ontem ter concordado que qualquer futuro governo afegão deverá incluir tanto a oposição quanto moderados do atual regime.
O entendimento contempla os interesses do Paquistão no vizinho. Uma de suas principais preocupações é a eclosão de uma nova guerra civil pela substituição do Taleban, da etnia majoritária, pela Aliança do Norte, o mais ativo grupo rebelde, hostil ao Paquistão e composto por minorias étnicas. "O ex-rei Zahir Shah, políticos, líderes moderados do Taleban, elementos da Aliança do Norte, chefes tribais, afegãos no estrangeiro. Todos podem desempenhar um papel nesse governo", disse Musharraf. "Queremos ajudar o povo afegão a finalmente ser governado por um governo que represente todos os povos do país", disse Powell.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Grafite
Próximo Texto: Powell pede paz na Caxemira a Índia e Paquistão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.