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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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JUBILEU

Ao celebrar 25 anos de papado, João Paulo 2º condena desigualdade social e guerra religiosa; mais de 150 mil vêem missa

Papa promete seguir trabalho e critica ricos

Massimo Sambucetti/ Associated Press
Papa Jão Paulo 2° celebra missa de 25 anos de seu papado na praça de São Pedro, no Vaticano


PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL AO VATICANO


O papa João Paulo 2º, 83, comemorou ontem o 25º aniversário de seu pontificado com uma grande missa na praça de São Pedro à qual compareceram mais de 150 mil pessoas, segundo a polícia.
Desafiando seu precário estado de saúde, ele prometeu seguir no comando da Igreja Católica e seus cerca de 1 bilhão de fiéis. "Ele [Deus], sabendo de minha fragilidade humana, me estimula a responder com fé... e me convida para assumir responsabilidades que Ele mesmo me confiou", disse o papa polonês.
Horas antes, ele criticou, em uma exortação apostólica, a desigualdade social e os países ricos que não ajudam os pobres, condenou as guerras, sobretudo as que envolvem sentimentos religiosos, e reafirmou o papel do celibato clerical na Igreja Católica, fazendo uma espécie de síntese de seu pontificado.
"A guerra dos poderosos contra os fracos tem, mais do que nunca, criado profundas divisões entre os ricos e os pobres", afirmou o líder na exortação. "Hoje, em muitas partes do mundo, pessoas estão famintas, enquanto, em outros lugares, há abundância." Também condenou "a inaceitável exploração da religião com objetivos violentos" e descreveu o extremismo religioso como "inimigo do diálogo e da paz".

Missa
Reflexo da internacionalização promovida pelo líder da Igreja Católica, a missa de ontem foi celebrada em dez línguas, incluindo português, bielorusso, filipino e suaíli.
Interrompido várias vezes pelos aplausos, João Paulo 2º leu três parágrafos e foi substituído pelo cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (a voz da ortodoxia católica). Mais tarde, o papa retomou a homilia até o final -ao todo, ele leu cerca de metade do texto.
O líder católico aparentava uma expressão de dor, em alguns momentos, e teve bastante dificuldade de falar, sobretudo no final da missa. O vento forte também parecia incomodá-lo. Ao longo da celebração, várias passagens inicialmente reservadas para o papa foram lidas por Ratzinger ou por outro bispo. Quando tentou acompanhar Ratzinger em uma leitura, sua voz era quase um murmúrio, incompreensível.
Pouco antes da eucaristia, bocejou longamente por duas vezes. A multidão riu, como em solidariedade ante o cansaço provocado pelo esforço, e a missa prosseguiu. "Só Deus sabe quantos sacrifícios, orações e sofrimentos foram oferecidos para apoiar meu serviço [prestado] à igreja", disse o papa.
Dirigindo-se a Jesus, o papa disse: "Ofereço a Ti os frutos desses 25 anos de ministério". E prosseguiu: "Perdoe meus erros e multiplique meus acertos".
Ao final da homilia, o papa pediu: "Pastor supremo, fica conosco para que possamos prosseguir seguros em direção à casa do Pai".

Peregrinos
Milhares de peregrinos, incluindo integrantes da Marinha brasileira e quatro astronautas da Nasa, vieram a Roma para participar da celebração do aniversário do pontificado. Compareceram ainda 149 cardeais de mais de 50 países, sete patriarcas de igrejas orientais e mais de 40 presidentes de conferências episcopais.
"É uma grande honra estar aqui e receber a bênção deste homem forte que é o papa", afirmou o astronauta D.S. Carey.
Carlos Ciszak, 42, veio de Porto Alegre a Roma com a mulher (Eliete), os dois filhos (Juliana, 6, e Ricardo, 10) e a mãe (Helena, 71).
"A emoção é grande em todos os sentidos. Quando entramos no local onde são Pedro está enterrado, praticamente 2.000 anos atrás, a sensação foi especial", disse Carlos. "Nem sei descrever exatamente como a gente se sente. É mais do que um sonho estar com a família aqui", afirmou Helena. "Sim, superou as expectativas. É muito mais grandioso do que imaginávamos. A energia é muito grande", disse Eliete.

Brasileiros
Entre as comitivas que vieram a Roma do Brasil, uma trouxe 32 pessoas de Recife (Pernambuco) e de Campina Grande (Paraíba). "Chegamos ontem [anteontem]. Já vim quatro vezes, mas esta é especial porque vim em peregrinação. É inacreditável ver o papa, é maravilhoso. Fiz vários pedidos e agradecimento", afirmou Rita de Cássia Cavalcanti, de Recife, que veio com os pais e uma tia. Sobre o que mais admira nele, disse: "Esta persistência dele. Ele não tem saúde e mesmo assim quer cumprir sua missão.'
Ontem, nos agradecimentos finais, em oito línguas, o papa não se esqueceu do Brasil. "Obrigado pelo apoio às obras de caridade do papa", disse em português.

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