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Analista minimiza vitória dos EUA na ONU
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
A aprovação unânime da resolução sobre o Iraque pelos 15
membros do Conselho de Segurança da ONU foi um passo importante para o restabelecimento
da normalidade das relações entre os Estados Unidos e o bloco
europeu formado pela Rússia,
França e Alemanha.
A superação total do mal-estar
criado pela ação militar anglo-americana no Iraque sem o aval
da ONU, porém, ainda vai demorar.
A avaliação parte de Stephen
Grand, do Council on Foreign Relations, "think tank" de política
internacional sediado em Nova
York.
Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - Que reflexos essa aprovação unânime da resolução da ONU
sobre o Iraque poderá ter nas relações entre os EUA e a comunidade
internacional?
Stephen Grand - A aprovação
por unanimidade dessa resolução
no Conselho de Segurança da
ONU vai ajudar a melhorar a atmosfera do debate dentro do próprio conselho e também nas Nações Unidas. Mas, para os Estados
Unidos, não significa uma vitória
muito grande. As principias nações que se opunham à guerra
[França, Rússia e Alemanha] não
se comprometeram a enviar tropas ou ajuda financeira. Outros
países que manifestaram interesse em fornecer soldados para cooperar com a força militar americana no Iraque, como o Paquistão, já haviam se decidido antes
mesmo dessa resolução. Assim,
não é um ganho tão importante
para os Estados Unidos.
Folha - Na sua avaliação, por que
França, Rússia e Alemanha, que haviam acenado com a possibilidade
de se absterem na votação de hoje
[ontem], mudaram de opinião e endossaram a proposta americana?
Grand - Essa decisão foi, na verdade, uma estratégia de limpeza
de agendas. Os EUA e a União Européia têm uma série de assuntos
em comum que precisam ser colocados na mesa. Desarmamento,
programas de ajuda a refugiados,
questões ambientais e vários outros temas ligados à globalização
unem os dois. O impasse da questão sobre o Iraque estava atrapalhando essas negociações. A atitude desses três países ao aprovar
esse documento mostra simplesmente um desejo de se livrar do
peso da discussão sobre a reconstrução do Iraque e seguir adiante.
Folha - Quais são, então, os prognósticos para as relações entre os
EUA e a União Européia, especialmente com a França e com a Alemanha?
Grand - Ainda vai permanecer
um clima de desconfiança mútua
com esses parceiros europeus. A
ruptura que se seguiu à Guerra do
Iraque foi muito intensa. Os Estados Unidos criaram um ambiente
muito hostil. Vai ter que haver um
esforço diplomático norte-americano muito grande e contínuo para reparar o estrago.
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