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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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Analista minimiza vitória dos EUA na ONU

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

A aprovação unânime da resolução sobre o Iraque pelos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU foi um passo importante para o restabelecimento da normalidade das relações entre os Estados Unidos e o bloco europeu formado pela Rússia, França e Alemanha.
A superação total do mal-estar criado pela ação militar anglo-americana no Iraque sem o aval da ONU, porém, ainda vai demorar.
A avaliação parte de Stephen Grand, do Council on Foreign Relations, "think tank" de política internacional sediado em Nova York.
Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - Que reflexos essa aprovação unânime da resolução da ONU sobre o Iraque poderá ter nas relações entre os EUA e a comunidade internacional?
Stephen Grand -
A aprovação por unanimidade dessa resolução no Conselho de Segurança da ONU vai ajudar a melhorar a atmosfera do debate dentro do próprio conselho e também nas Nações Unidas. Mas, para os Estados Unidos, não significa uma vitória muito grande. As principias nações que se opunham à guerra [França, Rússia e Alemanha] não se comprometeram a enviar tropas ou ajuda financeira. Outros países que manifestaram interesse em fornecer soldados para cooperar com a força militar americana no Iraque, como o Paquistão, já haviam se decidido antes mesmo dessa resolução. Assim, não é um ganho tão importante para os Estados Unidos.

Folha - Na sua avaliação, por que França, Rússia e Alemanha, que haviam acenado com a possibilidade de se absterem na votação de hoje [ontem], mudaram de opinião e endossaram a proposta americana?
Grand -
Essa decisão foi, na verdade, uma estratégia de limpeza de agendas. Os EUA e a União Européia têm uma série de assuntos em comum que precisam ser colocados na mesa. Desarmamento, programas de ajuda a refugiados, questões ambientais e vários outros temas ligados à globalização unem os dois. O impasse da questão sobre o Iraque estava atrapalhando essas negociações. A atitude desses três países ao aprovar esse documento mostra simplesmente um desejo de se livrar do peso da discussão sobre a reconstrução do Iraque e seguir adiante.

Folha - Quais são, então, os prognósticos para as relações entre os EUA e a União Européia, especialmente com a França e com a Alemanha?
Grand -
Ainda vai permanecer um clima de desconfiança mútua com esses parceiros europeus. A ruptura que se seguiu à Guerra do Iraque foi muito intensa. Os Estados Unidos criaram um ambiente muito hostil. Vai ter que haver um esforço diplomático norte-americano muito grande e contínuo para reparar o estrago.

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