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VIZINHO EM CRISE
Após oposição rechaçar proposta conciliadora de Sánchez de Lozada, aumentam manifestações na capital
Presidente boliviano vê "narcoditadura"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
A crise boliviana parece perto de
seu clímax, após a oposição ter rejeitado proposta de entendimento feita pelo presidente Gonzalo
Sánchez de Lozada e pedido a intensificação dos protestos, que já
causaram mais de 70 mortes, a
maioria na região de La Paz.
Cerca de 50 mil manifestantes
marcharam pela capital ontem,
pedindo a renúncia do presidente, que, por sua vez, chamou a
oposição de "uma minoria vinculada ao cultivo da coca e ao terrorismo", em entrevista à noite à TV
CNN.
Novos enfrentamentos entre a
polícia e manifestantes foram registrados em La Paz, perto do Palácio do Governo. A polícia impediu o avanço do protesto com tiros e gás lacrimogêneo. Ao menos
três feridos a bala foram levados a
hospitais. Não houve mortos.
Massas de mineiros, cocaleiros
e camponeses continuam chegando à capital, apesar de tentativas
do Exército de montar barreiras
em algumas vias de acesso. Anteontem dois mineiros foram
mortos em uma dessas barreiras.
Na CNN, Sánchez de Lozada
voltou a negar a renúncia, agradeceu o apoio internacional, mas reclamou do silêncio do presidente
venezuelano, Hugo Chávez. "Talvez esteja distraído ou muito ocupado", ironizou. Setores do governo acreditam que Chávez envia dinheiro à oposição.
Uma das poucas esperanças de
Sánchez de Lozada parece ser a
missão brasileiro-argentina que
parte hoje ao país para tentar um
acordo. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva é visto pelo governo
boliviano como um dos poucos
capazes de influenciar a oposição.
La Paz continua isolada do resto
do país. Os poucos carros que circulam são ambulâncias e veículos
de imprensa, todos portando
bandeiras brancas. Na avenida
Mariscal Santa Cruz, a principal
da cidade, havia apenas uma farmácia aberta. Por toda a extensão
da avenida, manifestantes esperavam por novos protestos.
Governo
Na residência oficial, Sánchez de
Lozada e assessores próximos
passaram o dia entre reuniões e
pronunciamentos à imprensa. No
início da manhã, os presidentes
da Câmara, Oscar Arrien, e do Se
nado, Hornando Vacadiez, alia
dos do governo, anunciaram a
tentativa de reabrir o Congresso
hoje "para discutir as propostas
do governo", que incluem um
plebiscito sobre a venda de gás ao
exterior e a possibilidade de uma
reforma constitucional. A reabertura do Congresso é vista como
praticamente impossível.
Pouco depois, o ministro da
Saúde criticou o pronunciamento
do vice-presidente Carlos Mesa
(sem partido), que disse ser impossível voltar ao governo, mas
que "continua sendo vice-presidente". Mesa tem um projeto político pessoal, afirmou o ministro
Javier Torres.
Em seguida o ministro do Desenvolvimento soltou uma nota
dizendo que o governo montou
uma ponte aérea para trazer alimentos a La Paz, cada vez mais
carente de produtos básicos como
gás de cozinha, pão e carne.
E, no fim do dia, o ministro da
Fazenda apareceu para anunciar a
indenização às famílias das dezenas de manifestantes mortos em
confronto com o governo.
Nas ruas, no entanto, só um
pronunciamento interessa: o da
renúncia de Sánchez de Lozada.
Outras cidades
As manifestações em outras regiões da Bolívia aumentaram ontem, principalmente em Cocha
bamba, que, pelo segundo dia
consecutivo, foi a cidade mais
conturbada depois da capital.
De acordo com líderes dos protestos, cerca de 20 estudantes foram detidos. Cochabamba continuava com várias barricadas e atividades paralisadas, respeitando a
greve nacional convocada pela
Central Boliviana dos Trabalha
dores. As aulas estão suspensas.
Segundo uma associação de
empresários, a cidade, que está
com os acessos bloqueados por
indígenas, tem um prejuízo de
cerca de US$ 2 milhões por dia.
Na região de Chapare, onde se
concentram produtores de coca e
base do líder opositor Evo Morales, camponeses tentavam manter
o controle sobre uma estrada que
liga as partes leste e oeste do país.
Em Sucre, o comitê cívico regional convocou greve por tempo indeterminado desde segunda-feira. Santa Cruz de la Sierra continuava a ter uma marcha de camponeses por 45 km. Oruro e Potosí também tiveram protestos. Há ainda uma greve de fome no país.
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