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São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Após oposição rechaçar proposta conciliadora de Sánchez de Lozada, aumentam manifestações na capital

Presidente boliviano vê "narcoditadura"

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

A crise boliviana parece perto de seu clímax, após a oposição ter rejeitado proposta de entendimento feita pelo presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e pedido a intensificação dos protestos, que já causaram mais de 70 mortes, a maioria na região de La Paz.
Cerca de 50 mil manifestantes marcharam pela capital ontem, pedindo a renúncia do presidente, que, por sua vez, chamou a oposição de "uma minoria vinculada ao cultivo da coca e ao terrorismo", em entrevista à noite à TV CNN.
Novos enfrentamentos entre a polícia e manifestantes foram registrados em La Paz, perto do Palácio do Governo. A polícia impediu o avanço do protesto com tiros e gás lacrimogêneo. Ao menos três feridos a bala foram levados a hospitais. Não houve mortos.
Massas de mineiros, cocaleiros e camponeses continuam chegando à capital, apesar de tentativas do Exército de montar barreiras em algumas vias de acesso. Anteontem dois mineiros foram mortos em uma dessas barreiras.
Na CNN, Sánchez de Lozada voltou a negar a renúncia, agradeceu o apoio internacional, mas reclamou do silêncio do presidente venezuelano, Hugo Chávez. "Talvez esteja distraído ou muito ocupado", ironizou. Setores do governo acreditam que Chávez envia dinheiro à oposição.
Uma das poucas esperanças de Sánchez de Lozada parece ser a missão brasileiro-argentina que parte hoje ao país para tentar um acordo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é visto pelo governo boliviano como um dos poucos capazes de influenciar a oposição.
La Paz continua isolada do resto do país. Os poucos carros que circulam são ambulâncias e veículos de imprensa, todos portando bandeiras brancas. Na avenida Mariscal Santa Cruz, a principal da cidade, havia apenas uma farmácia aberta. Por toda a extensão da avenida, manifestantes esperavam por novos protestos.

Governo
Na residência oficial, Sánchez de Lozada e assessores próximos passaram o dia entre reuniões e pronunciamentos à imprensa. No início da manhã, os presidentes da Câmara, Oscar Arrien, e do Se nado, Hornando Vacadiez, alia dos do governo, anunciaram a tentativa de reabrir o Congresso hoje "para discutir as propostas do governo", que incluem um plebiscito sobre a venda de gás ao exterior e a possibilidade de uma reforma constitucional. A reabertura do Congresso é vista como praticamente impossível.
Pouco depois, o ministro da Saúde criticou o pronunciamento do vice-presidente Carlos Mesa (sem partido), que disse ser impossível voltar ao governo, mas que "continua sendo vice-presidente". Mesa tem um projeto político pessoal, afirmou o ministro Javier Torres.
Em seguida o ministro do Desenvolvimento soltou uma nota dizendo que o governo montou uma ponte aérea para trazer alimentos a La Paz, cada vez mais carente de produtos básicos como gás de cozinha, pão e carne.
E, no fim do dia, o ministro da Fazenda apareceu para anunciar a indenização às famílias das dezenas de manifestantes mortos em confronto com o governo.
Nas ruas, no entanto, só um pronunciamento interessa: o da renúncia de Sánchez de Lozada.

Outras cidades
As manifestações em outras regiões da Bolívia aumentaram ontem, principalmente em Cocha bamba, que, pelo segundo dia consecutivo, foi a cidade mais conturbada depois da capital.
De acordo com líderes dos protestos, cerca de 20 estudantes foram detidos. Cochabamba continuava com várias barricadas e atividades paralisadas, respeitando a greve nacional convocada pela Central Boliviana dos Trabalha dores. As aulas estão suspensas.
Segundo uma associação de empresários, a cidade, que está com os acessos bloqueados por indígenas, tem um prejuízo de cerca de US$ 2 milhões por dia.
Na região de Chapare, onde se concentram produtores de coca e base do líder opositor Evo Morales, camponeses tentavam manter o controle sobre uma estrada que liga as partes leste e oeste do país.
Em Sucre, o comitê cívico regional convocou greve por tempo indeterminado desde segunda-feira. Santa Cruz de la Sierra continuava a ter uma marcha de camponeses por 45 km. Oruro e Potosí também tiveram protestos. Há ainda uma greve de fome no país.

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