São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2005

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AMÉRICA LATINA

Buenos Aires diz que eventual acordo nuclear não está entre os temas atualmente em discussão com a Venezuela

Chávez defende "eixo" com Argentina e Brasil

DA REDAÇÃO

Um dia depois de anunciar discussões para um acordo de cooperação nuclear com o Brasil e a Argentina, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, voltou a dizer que a integração do continente passa pelo eixo "Caracas, Brasília e Buenos Aires".
"É aí que está o eixo, o eixo da integração, o eixo mais forte da integração da América do Sul. Há muitos anos dizemos isso", disse Chávez, durante entrevista coletiva em Salamanca (Espanha), onde participou da 15ª Cúpula Ibero-Americana -para ele, "a melhor das seis das quais participei".
Chávez disse que o Brasil, a Venezuela e a Argentina "são a força econômica, a força política e têm a capacidade de ser as locomotivas da América Latina" e confirmou a entrada da Venezuela no Mercosul como membro pleno em dezembro.
Sem mencionar um eventual acordo nuclear com o Brasil e a Argentina, o venezuelano disse que, "para cooperar com a locomotiva com a qual temos de converter a América do Sul, o primeiro potencial é o energético".
Em seguida, disse que a Venezuela tem reservas de petróleo para "os próximos 200 anos".

Acordo distante
Segundo publicou ontem o jornal argentino "La Nación", Julio de Vido, ministro do Planejamento da Argentina, afirmou que o tema nuclear não figura nos temas desenvolvidos hoje com a Venezuela. "Se poderia chegar a falar de tecnologia nuclear para uso medicinal, mas não outra coisa", disse, ao ser questionado sobre um possível acordo nuclear entre Brasil, Argentina e Venezuela.
Na semana passada, a imprensa argentina publicou que a Venezuela está interessada em adquirir um reator nuclear de potência média do país vizinho. A idéia seria utilizá-lo para ajudar nas explorações em uma das maiores reservas de petróleo do mundo, localizada no rio Orinoco.
O governo argentino confirmou o interesse e afirmou que venderá o aparato ao país caso ganhe uma eventual licitação. O chanceler Rafael Bielsa fez a ressalva de que um possível negócio seria fechado com "a maior responsabilidade" e seguindo os devidos controles dos organismos internacionais especializados.
O cientista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos União para a Nova Maioria diz que um acordo entre os três países é improvável: "A Argentina e o Brasil têm um acordo nuclear sob supervisão internacional, da Agência Internacional de Energia Atômica. O primeiro ponto é se a Venezuela vai entrar nesse acordo ou não, se vai aceitar esse tipo de limitação. Isso porque, para a Venezuela esse acordo é um assunto político."
"Acredito que um acordo como esse está distante, não me parece demasiado provável. Isso por causa do medo do Brasil e da Argentina de gerar críticas internacionais e pelo fato de que a Venezuela não teria nada a somar, em termos de tecnologia, a um acordo como esse", disse Fraga.
Para o coordenador de campanhas do Greenpeace no Brasil, Marcelo Furtado, um eventual acordo desse nível "não é uma questão energética, mas militar".
"Se o Brasil quer se solidificar como um país sério, não deve fazer parte de uma ação irresponsável, de promover uma corrida armamentista ligada à questão nuclear na região", disse.


Com agências internacionais

Colaborou Maeli Prado, de Buenos Aires


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