São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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O IMPÉRIO VOTA

Crise econômica ofusca debate cultural nos EUA

Temas comportamentais e de segurança perdem terreno nas eleições

Para professora de Harvard, ex-assessora de Clinton, cenário no país não suscita discussões culturais

LUCIANA COELHO
EM CAMBRIDGE (EUA)

As guerras culturais foram atropeladas pela crise econômica e estão em baixa nos EUA. Após uma década dominando as campanhas eleitorais, atrás apenas do que os temas de defesa, assuntos ligados a religião e comportamento deixaram a superfície do debate para inflarem uma suposta guerra de classes
Se no Brasil as atenções da campanha se voltam para questões como o aborto, os EUA foram na mão contrária. Economia e desemprego são praticamente a única preocupação do eleitor nas eleições legislativas de novembro.
Isso porque o país pode ter começado a se recuperar nos números da sua pior crise econômica em 70 anos, mas o eleitor ainda sofre no bolso.
"Não é um ano para esses assuntos culturais", disse à Folha Elaine Kamarck, ex-assessora do governo Clinton que hoje leciona sobre temas contemporâneos na Universidade Harvard. "A população se sente mais pobre, e a economia varre tudo para fora de cena."
Pesquisa feita em setembro pelo "New York Times" com a rede CBS mostrou que 63% dos americanos consideram algum tema econômico como prioritário, contra 7% que optam por uma questão política ou por uma social (como educação).
Só 2% dos eleitores ouvidos dizem que questões religiosas, morais ou comportamentais são as mais vitais.
Se as questões culturais não dominam o debate, porém, estão latentes. É com esse conjunto de valores que o movimento Tea Party apela ao eleitor ao traçar sua divisão entre "nós" e "eles".
"A palavra favorita dessa gente é elite, eles só repetem "a elite isso, a elite aquilo'", afirmou à Folha Thomas Frank, autor de "What is the Matter with Kansas" ("Qual o problema com o Kansas").
O livro, de 2004, trata de como os conservadores adotaram o debate cultural para atrair um eleitorado cujas necessidades econômicas não se alinham ao partido. "Mas eu estive em vários comícios do Tea Party e não ouvi quase nunca eles falarem de aborto ou casamento gay", conta.
Vez por outra, o tema aparece pontualmente, como aconteceu na última semana quando o candidato republicano ao governo de Nova York, Carl Paladino, desqualificou a união entre pessoas do mesmo sexo como "menos válida" que a mantida entre heterossexuais.
Causa chiadeira, mas não mostra o mesmo potencial de levantar votos do que antes.


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