São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Pressionado para retirar suas tropas do país, governo monta operação de mídia para desmoralizar oposição

Casa Branca reage a críticas sobre Iraque

DA REDAÇÃO

A Casa Branca lançou uma intensa ofensiva de comunicação para calar os críticos que acusam o governo de George W. Bush de ter manipulado informações recebidas dos serviços de inteligência antes da Guerra do Iraque, visando abrandar as pressões para que as tropas americanas sejam retiradas do país.
Na defensiva, a Casa Branca está utilizando, desde a última sexta-feira, uma técnica de comunicação geralmente reservada para períodos eleitorais, que lança mão de comunicados, divulgados para a imprensa, intitulados "Para que Não Haja Nenhuma Confusão".
Nos quatro comunicados divulgados até ontem, o governo Bush se dedica a responder ponto a ponto a seus críticos e a expor suas contradições. Um dos alvos da ofensiva é o ex-chanceler e hoje premiê francês, Dominique de Villepin, cujo país foi um dos mais veementes opositores à guerra, ao lado da Alemanha.
O documento da Casa Branca ressalta que "mesmo governos estrangeiros que se opuseram à remoção de Saddam Hussein avaliaram que o Iraque possuía armas de destruição em massa", e cita um trecho de um discurso de Villepin em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em maio de 2003, quando ocupava a Chancelaria: "Em termos de [armas] biológicas, as provas sugerem a possível posse de estoques significativos de antraz e toxina botulímica [pelo Iraque]".
Os democratas (oposição), que freqüentemente acusam a Casa Branca de ter exagerado a ameaça representada pelo Iraque e inventado a existência de um arsenal para justificar a guerra, também são alvo. Os senadores Edward Kennedy e Carl Levin são citados, bem como o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001).
"O ex-presidente Clinton alertou, após o 11/9, que os EUA não podiam permitir que Saddam Hussein continuasse a enfrentar os inspetores de armas [da ONU]", segue o texto, com um trecho de uma entrevista concedida pelo antecessor de Bush à revista "Time" em junho do ano passado: "Se eu sou presidente, minha responsabilidade maior é tentar todo o possível para que essa rede terrorista [Al Qaeda] e outras não tenham acesso a armas químicas e biológicas. É por isso que apóio a coisa no Iraque. Há muita coisa não declarada."
A manobra de relações públicas não se restringe aos comunicados nem à Casa Branca. Em discurso proferido anteontem, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, citou o fato de que o "Ato de Liberação do Iraque", que estabelece como política americana favorecer a remoção de Saddam do poder, foi aprovado pelo Congresso americano em 1998, sob Clinton. O secretário também citou membros do governo anterior que disseram ver no ditador iraquiano uma "ameaça à segurança dos EUA".
A operação já se fazia anunciar pelos que acompanham o governo Bush dos bastidores.
O analista conservador Norman Podhoretz, editor da revista "Commentary", havia antecipado a estratégia em seu artigo "Who's Lying About Iraq?" (quem está mentindo sobre o Iraque?), a ser publicado na edição de dezembro.
Já William Kristol, editor da "Weekly Standard", bíblia neoconservadora, sintetizou a manobra em artigo publicado no último sábado: "Se os americanos crêem que Bush mentiu para ir à guerra, sua Presidência acaba".


Com agências internacionais

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