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IRAQUE SOB TUTELA
Pressionado para retirar suas tropas do país, governo monta operação de mídia para desmoralizar oposição
Casa Branca reage a críticas sobre Iraque
DA REDAÇÃO
A Casa Branca lançou uma intensa ofensiva de comunicação
para calar os críticos que acusam
o governo de George W. Bush de
ter manipulado informações recebidas dos serviços de inteligência antes da Guerra do Iraque, visando abrandar as pressões para
que as tropas americanas sejam
retiradas do país.
Na defensiva, a Casa Branca está
utilizando, desde a última sexta-feira, uma técnica de comunicação geralmente reservada para
períodos eleitorais, que lança mão
de comunicados, divulgados para
a imprensa, intitulados "Para que
Não Haja Nenhuma Confusão".
Nos quatro comunicados divulgados até ontem, o governo Bush
se dedica a responder ponto a
ponto a seus críticos e a expor
suas contradições. Um dos alvos
da ofensiva é o ex-chanceler e hoje
premiê francês, Dominique de
Villepin, cujo país foi um dos
mais veementes opositores à
guerra, ao lado da Alemanha.
O documento da Casa Branca
ressalta que "mesmo governos estrangeiros que se opuseram à remoção de Saddam Hussein avaliaram que o Iraque possuía armas de destruição em massa", e
cita um trecho de um discurso de
Villepin em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em
maio de 2003, quando ocupava a
Chancelaria: "Em termos de [armas] biológicas, as provas sugerem a possível posse de estoques
significativos de antraz e toxina
botulímica [pelo Iraque]".
Os democratas (oposição), que
freqüentemente acusam a Casa
Branca de ter exagerado a ameaça
representada pelo Iraque e inventado a existência de um arsenal
para justificar a guerra, também
são alvo. Os senadores Edward
Kennedy e Carl Levin são citados,
bem como o ex-presidente Bill
Clinton (1993-2001).
"O ex-presidente Clinton alertou, após o 11/9, que os EUA não
podiam permitir que Saddam
Hussein continuasse a enfrentar
os inspetores de armas [da
ONU]", segue o texto, com um
trecho de uma entrevista concedida pelo antecessor de Bush à revista "Time" em junho do ano
passado: "Se eu sou presidente,
minha responsabilidade maior é
tentar todo o possível para que essa rede terrorista [Al Qaeda] e outras não tenham acesso a armas
químicas e biológicas. É por isso
que apóio a coisa no Iraque. Há
muita coisa não declarada."
A manobra de relações públicas
não se restringe aos comunicados
nem à Casa Branca. Em discurso
proferido anteontem, o secretário
da Defesa, Donald Rumsfeld, citou o fato de que o "Ato de Liberação do Iraque", que estabelece como política americana favorecer a
remoção de Saddam do poder, foi
aprovado pelo Congresso americano em 1998, sob Clinton. O secretário também citou membros
do governo anterior que disseram
ver no ditador iraquiano uma
"ameaça à segurança dos EUA".
A operação já se fazia anunciar
pelos que acompanham o governo Bush dos bastidores.
O analista conservador Norman
Podhoretz, editor da revista
"Commentary", havia antecipado
a estratégia em seu artigo "Who's
Lying About Iraq?" (quem está
mentindo sobre o Iraque?), a ser
publicado na edição de dezembro.
Já William Kristol, editor da
"Weekly Standard", bíblia neoconservadora, sintetizou a manobra em artigo publicado no último sábado: "Se os americanos
crêem que Bush mentiu para ir à
guerra, sua Presidência acaba".
Com agências internacionais
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