São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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TERROR EM LONDRES

Bala explode ao penetrar no corpo

Polícia matou Jean Charles com munição proibida, afirma jornal

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

O diário britânico "Daily Telegraph" informou ontem que as balas usadas pela polícia londrina para matar o brasileiro Jean Charles de Menezes eram do tipo "dum dum", proibidas por convenção internacional de guerra por seu alto poder de destruição.
O uso de munições de ponta oca (que explodem depois que penetram no corpo) se tornou ilegal com a Declaração de Haia, em 1899. Foi uma resposta à utilização do artefato pelos próprios britânicos, que o criaram no final do século 19, na Índia, à época ainda uma colônia do país.
Acredita-se que a nova versão das "dum dum" tenha sido usada pela primeira vez contra Jean Charles, alvejado ao menos oito vezes, sete das quais na cabeça.
O eletricista mineiro foi confundido com um terrorista na estação de metrô de Stockwell, em 22 de julho passado, um dia após tentativas frustradas de atentados ao metrô londrino e duas semanas depois que quatro ataques coordenados mataram 52 pessoas.
A caçada a Jean Charles foi parte da Operação Kratos, de combate ao terrorismo, cujo ponto mais polêmico é a permissão de "atirar para matar".
A reportagem, destacada na capa do "Telegraph", um dos mais influentes jornais do Reino Unido, diz ainda que a decisão de usar balas de ponta oca foi tomada com base em pesquisas que a apontaram como solução mais eficiente para lidar com homens-bomba -por não trazer risco às pessoas em volta, mas ter efeito devastador para a vítima.
Ainda segundo o diário, esse tipo de munição continua em poder da Scotland Yard, que não descarta voltar a usá-lo caso veja necessidade. O movimento de apoio à família do brasileiro, o Justice4Jean Family Campaign, emitiu nota criticando o uso das balas e cobrando apuração pela IPCC, a comissão independente que investiga o caso.

Debate
Num pronunciamento ontem à noite, o chefe da Scotland Yard, Ian Blair, queixou-se da falta de um debate público sobre o novo papel da polícia após a ameaça terrorista, dizendo-se "frustrado" com o silêncio da população.
Blair declarou que o Reino Unido continua sendo um alvo potencial de ataques da Al Qaeda e sua rede de colaboradores e que a polícia precisa se adequar a essa nova era de risco permanente.


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