São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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CHILE

Equipe a serviço da Justiça conclui que o ex-ditador está apto a ser julgado; ele diz que Deus o perdoará por "eventuais excessos"

Pinochet simulou doença, diz junta médica

DA REDAÇÃO

Um novo relatório de uma junta médica designada pela Justiça do Chile concluiu que o general Augusto Pinochet simulou a gravidade de seu estado de saúde e está apto para enfrentar julgamento por violações de direitos humanos cometidos durante seu regime (1973-90). O ex-ditador chileno afirmou, porém, que Deus o perdoará por "eventuais excessos" cometidos.
Segundo o advogado Hernán Quezada, que representa as famílias das vítimas, os médicos concluíram que "Pinochet simulou, tentando fazer com que os sintomas de sua doença parecessem piores do que realmente eram".
Os médicos concordaram com diagnóstico anterior de que Pinochet, que completa 90 anos na próxima semana, sofre de uma demência leve. Mas não a consideraram severa o suficiente para impedir que enfrente julgamento.
"Os exames são conclusivos sobre o fato de Pinochet, do ponto de vista psiquiátrico, ser uma pessoa normal, que pode dar respostas, apesar de ter problemas neurológicos", disse o advogado.
A junta de psiquiatras, neurologistas e psicólogos examinou Pinochet durante diversas horas em três sessões realizadas em outubro último, por determinação da Suprema Corte chilena.
O processo em questão se refere à Operação Colombo, em que 119 supostos opositores ao regime de Pinochet foram mortos ou desapareceram. Como o ex-ditador já perdeu a imunidade de que gozava, o juiz responsável pelo caso, Victor Montiglio, poderá agora indiciá-lo.
Ontem, a imprensa chilena divulgou trechos do depoimento prestado por Pinochet a Montiglio na última segunda-feira.
"Lamento e sofro essas perdas", disse, em referência às vítimas de seu regime. "Mas Deus faz as coisas e ele me perdoará se me excedi em algumas, o que não creio."
Pinochet respondeu que não se lembrava à maioria das perguntas feitas pelo juiz. "Estão me perguntando sobre coisas que aconteceram há 30 anos."
Para justificar sua tomada de poder em 1973, afirmou que "tudo o que fiz dedico a Deus e ao Chile porque permitiu que o país não fosse comunista".
Processos a que o ex-ditador respondia por crimes cometidos pela Operação Condor e pela Caravana da Morte, a cargo do ex-juiz Juan Guzmán Tapia, foram arquivados pela Suprema Corte sob o argumento de que sua saúde mental era precária.


Com agências internacionais

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