São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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Iraque ordena prisão do principal clérigo sunita

Americano é condenado por ter estuprado e assassinado iraquiana de 14 anos

Ônibus levando xiitas teriam sido levados em Bagdá; rede de TV anuncia o seqüestro de quatro americanos no interior

DA REDAÇÃO

O governo iraquiano, liderado pelos xiitas, ordenou ontem a prisão do mais importante clérigo sunita do país, sob a acusação de terrorismo, uma medida que pode aumentar ainda mais a tensão sectária no país, imerso numa onda cada vez maior de matanças e seqüestros em massa.
O pedido de prisão é para Harith Al Dari, chefe da Associação dos Clérigos Muçulmanos e defensor da minoria sunita.
O ministro do Interior, Jawad al Bolani, disse, em entrevista, que pedirá ajuda internacional para prender Al Dari, que está na Jordânia, um país de maioria sunita que dificilmente o entregará.
"Esta é a política do governo contra qualquer um que tente fomentar a divisão no Iraque. Os serviços de segurança o perseguirão", disse o xiita Bolani.
O ministro disse que o pedido de prisão é fruto de investigação em torno dos grupos paramilitares, mas os líderes do governo também estavam irritados com declarações pública de Al Dari defendendo as ações da rede terrorista Al Qaeda.
O clérigo disse que a medida é um "ato vil" de um governo "falido" e "atrairá a raiva e as maldições do povo iraquiano".
Muitos sunitas -e um cada vez mais ansioso governo americano- dizem que o premiê xiita Nuri al Maliki tem fracassado em coibir a violência promovida por milícias xiitas. A acusação ganhou força depois que um ministério sob controle sunita foi invadido, e os seus funcionários, seqüestrados.
A decisão de prender o clérigo sunita ocorreu no mesmo dia em que a polícia iraquiana anunciou que seis microônibus que atravessavam um bairro de maioria sunita levando dezenas de xiitas, no oeste de Bagdá, desapareceram, no que provavelmente foi mais um seqüestro em massa na cidade.
Segundo policiais, os ônibus foram parados por homens armados, alguns de uniforme, em falsos postos de verificação. Outras 15 pessoas foram seqüestradas num café. E 50 foram mortas em vários ataques.
Também ontem, um grupo de até 14 pessoas -entre as quais quatro americanos- foi seqüestrado na cidade de Nasiriyah, segundo a TV ABC.
Os indícios de que o frágil governo de união nacional está se desintegrando se acumulam. O ministro do Ensino Superior, o sunita Abd Dhiab, que se afastou após o seqüestro em massa no seu ministério, diz que a situação é de "anarquia". "Não há governo efetivo", afirmou.
Segundo Dhiab, parte das dezenas capturadas na terça foi torturada e morta. A informação foi dada por reféns que foram libertados. O ministro afirma que ainda há 70 desaparecidos -70 pessoas teriam sido libertadas-; o governo diz que os seqüestrados eram 40 e todos foram soltos.

Americano condenado
Um dos quatro soldados americanos acusados de estuprar uma iraquiana de 14 anos antes de matá-la junto com sua família foi condenado ontem a 90 anos de prisão. James Barker se declarou culpado e se comprometeu a testemunhar contra os outros envolvidos no caso para escapar da pena de morte. A sentença ainda será revisada por uma corte militar.
O estupro e a matança em Mahmudiya revoltaram os iraquianos e renovaram os pedidos para rever a imunidade de militares estrangeiros para indiciamento no próprio Iraque.


Com agências internacionais


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