São Paulo, quarta, 17 de dezembro de 1997.




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ÁFRICA DO SUL
Ao deixar a liderança do CNA, presidente diz que ainda há sombras do regime branco
Mandela teme a volta do apartheid

das agências internacionais

O presidente da África do Sul, Nelson Mandela, 79, se despediu ontem da liderança do Congresso Nacional Africano (CNA) afirmando que o perigo do apartheid ainda não está soterrado no país.
Em um discurso de mais de quatro horas de duração, o último que fez como presidente do partido, Mandela fez críticas aos brancos. "A minoria branca mostra forte desejo de manter seus privilégios", disse, na abertura do 50º congresso do CNA, na cidade de Mafikeng (noroeste).
No final deste congresso, Mandela será sucedido por Thabo Mbeki na liderança do partido. Mbeki, que, segundo Mandela, "já é o presidente de fato" há algum tempo, é o principal nome para a sucessão presidencial sul-africana, em 1999.
Mandela disse ontem que alguns brancos pensam que a "reconciliação nacional" deve se basear num processo de compensação: em troca da diminuição de seu poder político, devem ser garantidos seus poderes econômicos.
Analistas políticos sul-africanos disseram que as palavras de despedida do primeiro presidente negro do país -que expressam a opinião da liderança do CNA- surpreenderam pela amargura e ceticismo.
Durante o regime de segregação racial do apartheid, Mandela ficou preso durante 27 anos. Foi solto em 1990 e assumiu a presidência do CNA um ano mais tarde.
O presidente sul-africano atacou diretamente os líderes do antigo regime da minoria branca. Disse que eles não têm colaborado com a Comissão de Reconciliação e Verdade, instaurada para discutir e levantar investigações sobre crimes da época do apartheid.
"A comissão mostra a falta de interesse da sociedade branca -incluindo políticos, empresários, juízes, a mídia e a igreja- em explicar seu papel no regime do apartheid. Mostra também seu despreparo para contribuir na criação de uma democracia sem racismo e sexismo", afirmou.
Ao final do discurso, Mandela recebeu beijos de sua ex-mulher, Winnie Mandela, que estava entre os que foram cumprimentá-lo. Desde o divórcio, no ano passado, eles não se beijavam em público.



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