São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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TCHETCHÊNIA

Oficial julgado por matar jovem na república deve ser liberado de prisão

Coronel russo é considerado insano

Arquivo - 15.nov.2001/France Presse
O tchetcheno Raduyev morreu em prisão russa anteontem


DA REDAÇÃO

O primeiro alto oficial militar russo a ser julgado por crimes contra civis na república separatista da Tchetchênia foi declarado insano ontem, abrindo caminho para que ele seja submetido a um tratamento psiquiátrico em vez de cumprir pena na prisão.
Em um caso visto como um teste da disposição da Rússia de punir violações aos direitos humanos na Tchetchênia, o coronel Yuri Budanov é acusado de ter matado uma tchetchena há dois anos.
"Em relação aos atos pelos quais Budanov foi incriminado, foi reconhecido que, apesar de ter cometido esses atos, ele não entendeu seu significado", disse o advogado de defesa Alexei Dulimov.
Falando no local do julgamento, em Rostov-on-Don (região sul da Rússia), Dulimov afirmou que Budanov deve ser liberado de acusações criminais e submetido a tratamento médico obrigatório.
Mas o enviado russo para assuntos relacionados a direitos humanos na Tchetchênia disse: "As pessoas na Tchetchênia estão convencidas de que Budanov é um criminoso, um assassino. Um veredicto tão ameno, uma absolvição "de facto", perturbará a sociedade tchetchena".
O julgamento, que está sendo monitorado por diversas organizações de defesa dos direitos humanos, foi interrompido várias vezes para que o réu passasse por testes psiquiátricos.
Budanov é acusado de ter matado Elza Kungayeva, 18, durante um interrogatório depois que seus homens invadiram o vilarejo onde ela morava e a levaram a uma base militar.
O pai da vítima, Visa Kungayev, disse: "É uma vergonha que coronéis insanos sirvam hoje no Exército russo e matem civis. Mas eu não acredito que ele seja insano. Vou insistir em que eles realizem um exame adicional, e dessa vez independente, para saber se ele é realmente insano."
Budanov admite que matou Kungayeva, dizendo crer que ela fosse uma franco-atiradora. Os advogados dele alegam que ele não era responsável por seus atos, mas parentes de Kungayeva o acusam de estuprá-la e matá-la enquanto estava bêbado. Os crimes pelos quais é acusado são puníveis com até 20 anos de prisão.
Autoridades russas afirmaram ontem que um líder guerrilheiro tchetcheno que morreu na cadeia anteontem deve ser enterrado no cemitério da prisão, em vez de ser entregue a seus parentes.
Segundo o chefe do campo de trabalhos forçados em que Salman Raduyev morreu, isso deve ocorrer pois o corpo só pode ser entregue à família se parentes o requisitarem em três dias, o que não havia ocorrido até ontem.
Raduyev, 35, que liderou uma tomada de reféns em 1996 no sul da Rússia que deixou 78 mortos, morreu de hemorragia interna no campo, em Perm, onde servia uma pena de prisão perpétua.
Autoridades russas dizem que Raduyev morreu de causas naturais, mas, para o jornal "Kommersant", Raduyev morreu depois que um guarda o espancou. A Anistia Internacional pediu uma investigação independente sobre o caso.


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