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ANÁLISE
Contratos, não prisão de Saddam, atraem europeus
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Contratos ligados à reconstrução do Iraque, não a aclamada prisão de Saddam Hussein, poderão abrandar a oposição da França, da Alemanha e
da Rússia à ocupação do Iraque, de acordo com especialistas em relações entre os EUA e
a Europa ouvidos pela Folha.
Richard Armitage, subsecretário de Estado dos EUA, disse
esperar que a detenção de Saddam atraísse um maior apoio
aos esforços de estabilização e
de reconstrução do Iraque liderados pelos americanos.
Em visita a Paris e a Berlim,
contudo, o enviado especial
dos EUA James Baker obteve
mais sucesso que os diplomatas americanos que tentavam
conseguir, em Nova York, a
anuência da ONU ao cronograma da transição iraquiana.
Na Europa, Baker, um advogado bem-sucedido que, segundo o "New York Times",
representa empresas interessadas em obter contratos no Iraque, busca obter de franceses,
de alemães e de russos o perdão
de parte da dívida iraquiana.
Não está claro se ele ofereceu
ontem a franceses e a alemães a
oportunidade de participar da
distribuição de contratos relacionados à reconstrução -na
semana passada, os EUA decidiram que os países que se opuseram à guerra não receberiam
contratos. Todavia a mudança
de tom de Paris e de Berlim leva
a crer que isso seja provável.
"A França, a Alemanha e a
Rússia querem aparar as arestas deixadas pela disputa diplomática que precedeu a guerra.
Mas isso não significa que a
prisão de Saddam seja suficiente para atrair seu apoio a um
processo de reconstrução do
qual discordam", disse Charles
Kupchan, diretor do Council
on Foreign Relations (EUA).
"A captura de Saddam foi
bem-vinda. Porém o problema
é mais complexo. Os vultosos
contratos ligados à reconstrução são mais relevantes para a
melhora das relações transatlânticas. É por isso que os europeus ficaram indignados
com a decisão americana de excluí-los do processo", analisou
Christian Lequesne, diretor do
Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais (França).
Se Washington não usou a
questão dos contratos para tentar convencer os europeus a
aceitar perdoar parte da dívida,
por que Paris e Berlim anunciaram que poderiam fazê-lo, embora, até a semana passada,
afirmassem o contrário?
Para Lequesne, os franceses e
os alemães podem ter feito
uma "aposta perigosa". "Se isso ainda não foi negociado e a
França e a Alemanha pretendem agradar aos EUA para tentar persuadi-los a mudar de
idéia em relação à distribuição
dos contratos, os franceses e os
alemães poderão ficar bastante
decepcionados. Afinal, o atual
governo dos EUA é bem mais
ideológico que os anteriores e
não me parece estar inclinado a
mudar de posição só por conta
de um gesto diplomático."
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