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ARTIGO
Um centro chamado McCain
ROGER COHEN
DO "NEW YORK TIMES"
Ninguém esteve certo o tempo todo sobre o Iraque, mas o
senador John McCain esteve
menos errado do que a maioria.
Ele não precisava de ajuda para
reconhecer uma guerra conduzida indevidamente e foi um
dos primeiros a pressionar por
um maior efetivo para as forças
de ocupação. No ano passado,
apoiou o reforço das forças dos
EUA com 30 mil soldados extras, o que produziu resultados.
Resultados modestos, sim, e
a violência voltou a crescer este
mês -sem esquecer que o progresso político continua lento.
Mas o progresso é sempre lento
quando uma população escravizada durante décadas é libertada. Os ataques violentos caíram em 60% em dezembro,
com relação ao pico da violência em 2007, e os refugiados começaram a voltar.
É certo que o número de retornos ainda é ínfimo no oceano de 2,2 milhões de iraquianos
exilados, mas dezenas de milhares de pessoas não estariam
retornando caso não vissem
motivos para esperança. E sim,
sei que os milhares de iraquianos mortos não poderão voltar.
Recuperação
McCain estava morto em termos políticos seis meses atrás;
sua campanha havia sido destruída pelo fato de que apoiou o
reforço das tropas. Sua notável
recuperação é um dos indicadores claros de até que ponto a
situação mudou no Iraque.
Essa mudança alterou o panorama político. McCain conquistou pontos por sua consistência e franqueza -qualidade
que, entre os principais candidatos, só Barack Obama pode
alegar (por sua consistente
oposição ao conflito).
Ao mesmo tempo, uma economia que está sofrendo abalos
causados pela crise no mercado
de crédito de risco tirou o Iraque da posição central nas
preocupações dos eleitores
americanos. A vitória do republicano Mitt Romney na primária em Michigan surgiu em
um Estado que deseja soluções
rápidas para o desemprego.
Três Estados escolheram
candidatos republicanos, e as
escolhas foram diferentes em
cada um. Mike Huckabee, conservador, venceu em Iowa;
McCain conquistou New
Hampshire com ajuda dos independentes; e Romney usou
suas credenciais como executivo para vencer em Michigan. O
partido de Bush rachou. Deus, a
nação heróica e Wall Street estão fora de sincronia.
Uma suposição dominante
quanto às eleições deste ano é
que a capacidade dos democratas para prejudicar a si mesmos
teria de funcionar em regime
muito acelerado para transformar em derrota a vitória que
parecia certa. E as cisões entre
os republicanos reconfortam
os que confiam num triunfo democrata inevitável. Mas, como
aponta Norman Ornstein, do
American Enterprise Institute,
"não resta dúvida de que o candidato republicano que mais
abala os democratas é McCain.
Eles se sentem inseguros quanto à amplitude de seu apelo".
Os atrativos de McCain para
os eleitores independentes, que
respondem por entre 10% e
30% dos votos em todo o país,
envolvem tanto questões políticas quanto de personalidade.
Sua prontidão sobre medidas
contra o aquecimento global,
apoio à imigração e defesa da
representação legal para os prisioneiros da guerra contra o
terror lhe propiciam credibilidade junto aos eleitores centristas, ainda que atraiam oposição em seu partido.
Mas McCain não conquista o
apoio dos indecisos como um
proponente de políticas flexíveis; ele é claramente um homem de carne e osso. McCain
pode ter mau gênio, mas isso
não faz com que ele considere
necessário adotar postura arrogante para se impor.
Ele sempre foi categórico em
sua oposição a tiranias. Saddam
Hussein, como aponta o escritor britânico Nick Cohen no livro "What's Left?", "não era um
simples ditador de Terceiro
Mundo, mas um fascista real".
Essa máquina de genocídio
matou 400 mil iraquianos em
perseguições internas e mais
um milhão de pessoas no Iraque e Kuwait. Será que a corrida fraudulenta de Bush rumo à
guerra importa mais que a libertação de 26 milhões de pessoas? Ainda creio que a liberdade do Iraque vale o preço que
pagamos por ela. McCain compartilha dessa opinião.
Caso ele seja indicado, a disputa pela Casa Branca não será
tão clara. Eu não optaria por
McCain para presidente. Ele é
conservador demais quanto a
diversas questões sociais, e seu
temperamento e idade preocupam. Mas o senador é um homem honrado demais para que
se possa descartá-lo em momento tão crítico para a posição mundial dos EUA.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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