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SOB NOVA DIREÇÃO / VIZINHANÇA
América Latina verá pouca mudança
Analistas acreditam que alterações nas relações com região serão mais na forma do que na substância
Subsídios para álcool de
milho americano, que
contrariam Brasil, devem
continuar, e embaixador em
Brasília seguirá no cargo
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Com uma crise econômica,
duas guerras e o conflito no
Oriente Médio em curso, Barack Obama tem poucos incentivos para se empenhar em
aplicar rapidamente o slogan
de "mudança" em relação à
América Latina.
O que se pode esperar, dizem
analistas, é mais uma transformação na forma do que na
substância, além de reposicionamento parcial de fundos de
programas militares para ações
sociais -nada que altere os
fundamentos da política externa americana.
A primeira prioridade do novo governo, a economia, apresenta riscos para a América Latina. Para superá-lo, Obama terá de "perseguir a recuperação
por vias que não prejudiquem a
região", disse à Folha Peter
Hakim, presidente do Interamerican Dialogue. "Precisa evitar protecionismo, novas tarifas, subsídios para produtos
americanos e controles sobre
investimentos no exterior."
Até agora, há poucas pistas
de que isso será aplicado pesadamente e certa preocupação
com o futuro de acordos econômicos. Obama indicou no ano
passado intenção de revisitar
os termos do Nafta (tratado de
livre comércio com México e
Canadá) e se mostrou cético
quanto à aprovação de acordo
de livre comércio pendente
com a Colômbia.
Peter DeShazo, diretor do
programa para as Américas do
Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, diz que "o
primeiro desafio de Obama será melhorar a imagem dos EUA
na região". "Mudanças na abordagem americana, com mais
atenção à diplomacia multilateral e busca de vias de cooperação, serão importantes."
O presidente eleito tem
oportunidades claras para enviar sinais positivos rapidamente. Uma delas está em Cuba: Obama já reiterou que pretende fechar a prisão de Guantánamo. Ele também deverá
aliviar restrições a viagens e às
remessas de dinheiro de cubano-americanos a familiares na
ilha. Há pouca expectativa, porém, de um alívio rápido do
embargo econômico.
Outra oportunidade é a retomada da reforma migratória,
com um caminho para a cidadania dos 12 milhões de ilegais
que vivem nos EUA. Ainda que
o Congresso se mostre reticente, a insistência do governo seria bem avaliada pelos latinos.
Hakim e DeShazo também
creem que México e América
Central impõem problemas urgentes para Obama no continente. Ele terá de lidar com a
crescente atividade de gangues
e cartéis de drogas que cada vez
mais apresentam ameaças à segurança transnacional.
Via estreita
Enquanto se dedica a outras
prioridades, Obama pode ver a
América Latina se aprofundar
no caminho de um fortalecimento regional que tenta minimizar o papel dos EUA no continente. O tom foi recentemente dado na Bahia em dezembro,
na cúpula de América Latina e
Caribe, na qual os EUA não participaram e só observaram de
longe discursos decretando o
fim de sua hegemonia.
Analistas temem que mais
terreno seja perdido em abril,
quando Trinidad e Tobago sedia a 5ª Cúpula das Américas,
com presença dos EUA.
"Obama não deve permitir
que a Cúpula das Américas seja
"sequestrada" por populistas
autoritários e antiamericanos
como ocorreu na última cúpula, na Argentina, em 2005", escreveram em artigo neste mês
James M. Roberts e Ray Walser, do think-tank de direita
Heritage Foundation.
Para se manter influente,
Obama terá também que pesar
a competição que representam
hoje países como a Rússia, no
campo militar, e a China, na
área econômica.
Para Chávez, não é esperada
mudança radical. Segundo Hakim, Obama "não precisará fazer muito" em relação à Venezuela, a não ser "manter a abordagem de Bush, de não confrontar nem acolher" Caracas.
No Brasil, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou há
dez dias esperar que se construa uma relação com Obama
em que "os EUA não serão soberanos, mas sim iguais".
Temas caros ao Itamaraty,
como subsídios ao álcool americano e a Rodada Doha, também devem se mover lentamente. A próxima secretária de
Estado, Hillary Clinton, indicou que a taxação a produtos
brasileiros provavelmente será
mantida, assim como subsidios
a fazendeiros dos EUA. O atual
embaixador em Brasília, Clifford Sobel, deve ser mantido no
cargo, ao menos inicialmente.
Para o progresso dos laços
com os latinos, ainda são aguardadas duas indicações: a do responsável pela América Latina
do Conselho de Segurança Nacional e a de secretário-assistente para a América Latina do
Departamento de Estado.
Um dos principais nomes citados é o de Dan Restrepo, que
foi assessor sênior de campanha para a região. Também
despertaram interesse para os
postos os nomes de Arturo Valenzuela, assessor graduado para a região no governo Bill Clinton (1993-2001), e Julia Sweig,
especialista em Cuba do Council on Foreign Relations.
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