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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

UE diz que inspeções não podem "continuar indefinidamente", mas salienta que ação militar é o "último recurso"

Europa divulga posição comum ambígua

Yves Herman/Reuters
Tony Blair (à esq.) anda atrás de Gerhard Schröder, em Bruxelas


ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Os 15 países da União Européia chegaram a um acordo sobre a crise iraquiana. Líderes dos 15 aprovaram ontem em Bruxelas uma resolução comum que afirma que as inspeções no Iraque não podem "continuar indefinidamente". Eles oferecem uma "última chance" para que o Iraque se desarme pacificamente e dizem que o uso da força militar deve ser o "último recurso".
"A guerra não é inevitável. A força deve ser utilizada apenas como último recurso. As inspeções não podem continuar indefinidamente na falta completa de uma cooperação iraquiana. Cabe ao regime iraquiano pôr fim a essa crise, acatando as demandas do Conselho de Segurança [da ONU]", diz a declaração.
Seus termos indicam que foi alcançado um equilíbrio entre as posições francesa e britânica. Londres defendia a intervenção militar urgente. Paris defendia o prolongamento das inspeções por tempo indeterminado e o uso da força como recurso final.
A reunião de cúpula foi convocada para tentar solucionar as divisões que a questão iraquiana está gerando na Europa. França e Alemanha lideram os países que se opõem à intervenção militar. Reino Unido e Espanha lideram o grupo que julga que o prazo dado ao Iraque já venceu.
O presidente francês, Jacques Chirac, avaliou que o compromisso firmado ontem punha fim às tensões entre os países europeus. "Vimos uma verdadeira aproximação", declarou.
Além disso, Chirac aproveitou a oportunidade para criticar os países do leste do continente que apoiaram a posição americana em uma carta publicada em 27 de janeiro último. O presidente francês, cujo país lidera, no Conselho de Segurança da ONU, o grupo de nações favoráveis ao fortalecimento das inspeções no Iraque, disse que os países do leste (como Polônia, Hungria e República Tcheca) não tiveram "um comportamento muito responsável".
A reunião, com o objetivo de apaziguar os conflitos, teve como convidado o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. "Se o Iraque continuar seu desafio à resolução 1441 do Conselho de Segurança, os membros podem ter que tomar uma amarga decisão", disse.
Os EUA estudam apresentar uma segunda resolução no Conselho de Segurança para que seja autorizado explicitamente o uso da força contra o Iraque. A França é absolutamente contra.
A reunião foi marcada pela tensão entre Reino Unido e França. Os franceses insistiam em que os inspetores da ONU deveriam continuar seu trabalho. Os britânicos diziam que a ação militar era "o último recurso", mas ressaltavam que ela não poderia ser descartada.
Chirac e o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, desembarcaram em Bruxelas como grandes vitoriosos depois dos enormes protestos na Europa contra a guerra. Pesquisa de opinião ontem na França mostrou que cerca de 87% dos franceses se opõem à intervenção militar e que 85% apóiam as decisões de Chirac sobre o tema. O resultado é 10 pontos percentuais superior à pesquisa feita no início de janeiro.
Já os protestos na Espanha e na Itália deixaram em situação política delicada os premiês José María Aznar e Silvio Berlusconi, ambos favoráveis à posição americana. A oposição espanhola, escudada pelos protestos, está pressionando Aznar a mudar de posição a respeito do Iraque.
A reunião de cúpula em Bruxelas, que começou às 18h (14h no Brasil), só divulgou o acordo final por volta de 22h30 (18h30 no Brasil).

Com agências internacionais


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